Noções Básicas em Farmacologia

 NOÇÕES BÁSICAS EM FARMACOLOGIA

 

 

Classes de Medicamentos e Seus Efeitos 

Medicamentos do Sistema Nervoso Central

 

Sistema Nervoso Central (SNC) é composto pelo cérebro e pela medula espinhal e desempenha um papel fundamental no controle das funções vitais e comportamentais do organismo. Os medicamentos que atuam no SNC são amplamente utilizados para tratar condições como dor, inflamação, ansiedade, insônia, depressão e transtornos psicóticos. Esses fármacos exercem seus efeitos por meio da modulação da neurotransmissão, alterando a ação de neurotransmissores como serotonina, dopamina, noradrenalina, GABA e glutamato (GOODMAN; GILMAN, 2021).

Os principais grupos de medicamentos do SNC abordados neste texto incluem analgésicos e anti-inflamatórios, sedativos e ansiolíticos, e antidepressivos e antipsicóticos.

1. Analgésicos e Anti-inflamatórios

Os analgésicos são medicamentos utilizados para o alívio da dor, enquanto os anti-inflamatórios reduzem a inflamação e podem, consequentemente, aliviar a dor associada a processos inflamatórios (KATZUNG, 2021).

1.1. Analgésicos Opiáceos e Não Opiáceos

Os analgésicos são divididos em duas grandes classes:

  • Analgésicos opiáceos (narcóticos): derivados do ópio ou sintetizados com mecanismo de ação semelhante. Incluem a morfina, codeína, fentanil e tramadol. Atuam ativando os receptores opioides no SNC, modulando a percepção da dor. São eficazes para dores intensas, mas apresentam efeitos adversos como depressão respiratória, sedação e potencial de dependência (BRUNTON; KNOLLMANN; HILAL-DANDAN, 2023).
  • Analgésicos não opiáceos: incluem paracetamol e dipirona, que exercem efeito analgésico e antipirético sem propriedades anti-inflamatórias significativas. São utilizados para dores leves a moderadas.

1.2. Anti-inflamatórios Não Esteroides (AINEs) e Corticoides

  • AINEs: inibem a enzima ciclooxigenase (COX), reduzindo a produção de prostaglandinas, substâncias envolvidas na inflamação e na dor. Exemplos incluem ibuprofeno, naproxeno, diclofenaco e ácido acetilsalicílico (aspirina). Os AINEs podem causar efeitos adversos como irritação gástrica e aumento do risco cardiovascular (RANG; DALE, 2021).
  • Corticoides: como a prednisona e a dexametasona, possuem ação anti-inflamatória potente ao inibir a resposta imune e a produção de mediadores inflamatórios. São indicados para inflamações graves, mas seu uso prolongado pode levar a efeitos colaterais como osteoporose, diabetes e supressão do eixo adrenal.

2. Sedativos e Ansiolíticos

Os sedativos e

ansiolíticos são medicamentos utilizados para tratar distúrbios de ansiedade, insônia e outros transtornos relacionados à hiperatividade do SNC. Eles atuam predominantemente no sistema do ácido gama-aminobutírico (GABA), principal neurotransmissor inibitório do SNC (GOODMAN; GILMAN, 2021).

2.1. Benzodiazepínicos

Os benzodiazepínicos são os sedativos mais prescritos devido ao seu perfil de eficácia e segurança. Eles aumentam a ação do GABA nos receptores GABA-A, promovendo efeito ansiolítico, sedativo, relaxante muscular e anticonvulsivante.

Exemplos:

  • Diazepam
  • Lorazepam
  • Alprazolam
  • Clonazepam

São indicados para transtornos de ansiedade, insônia e epilepsia. Entretanto, podem causar tolerância, dependência e sedação excessiva, exigindo cautela no uso prolongado (KATZUNG, 2021).

2.2. Barbitúricos

Os barbitúricos, como fenobarbital e tiopental, eram amplamente utilizados antes da introdução dos benzodiazepínicos. Eles também atuam no receptor GABA-A, mas possuem risco elevado de depressão respiratória e dependência, sendo atualmente reservados para epilepsia refratária e indução anestésica (BRUNTON; KNOLLMANN; HILAL-DANDAN, 2023).

2.3. Outros Sedativos e Hipnóticos

  • Zolpidem, Zopiclona e Eszopiclona: atuam seletivamente nos receptores GABA-A, sendo utilizados no tratamento da insônia com menor risco de dependência em comparação aos benzodiazepínicos.
  • Buspirona: ansiolítico não sedativo que atua nos receptores de serotonina (5-HT1A), sendo indicado para transtorno de ansiedade generalizada.

3. Antidepressivos e Antipsicóticos

3.1. Antidepressivos

Os antidepressivos são utilizados no tratamento da depressão, transtorno de ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo e outras condições psiquiátricas. Eles atuam aumentando a disponibilidade de neurotransmissores como serotonina e noradrenalina (GOODMAN; GILMAN, 2021).

Principais Classes de Antidepressivos

  • Inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS): aumentam os níveis de serotonina no SNC e apresentam menos efeitos adversos que outras classes. Exemplos: fluoxetina, sertralina, escitalopram.
  • Inibidores da recaptação de serotonina e noradrenalina (IRSN): possuem ação dupla, sendo indicados para depressão e dor neuropática. Exemplos: venlafaxina, duloxetina.
  • Antidepressivos tricíclicos (ATC): bloqueiam a recaptação de serotonina e noradrenalina, mas apresentam efeitos adversos significativos, como sedação e toxicidade cardíaca. Exemplos: amitriptilina, nortriptilina.
  • Inibidores da monoamina oxidase (IMAO): aumentam a
  • disponibilidade de neurotransmissores, mas possuem interações alimentares perigosas. São utilizados em casos resistentes. Exemplos: fenelzina, tranilcipromina.

Os antidepressivos podem levar semanas para produzir efeito terapêutico completo, sendo fundamental a adesão ao tratamento (KATZUNG, 2021).

3.2. Antipsicóticos

Os antipsicóticos são utilizados no tratamento da esquizofrenia, transtorno bipolar e psicoses. Eles bloqueiam receptores de dopamina (D2), reduzindo sintomas como delírios e alucinações.

Principais Classes de Antipsicóticos

  • Antipsicóticos típicos (primeira geração): como haloperidol e clorpromazina, são eficazes contra sintomas positivos da esquizofrenia, mas causam efeitos extrapiramidais (rigidez, tremores).
  • Antipsicóticos atípicos (segunda geração): como risperidona, olanzapina e quetiapina, possuem menor risco de sintomas motores e atuam também sobre serotonina.

Os antipsicóticos podem causar efeitos adversos como sedação, ganho de peso e disfunções metabólicas, sendo necessário monitoramento clínico contínuo (BRUNTON; KNOLLMANN; HILAL-DANDAN, 2023).

Conclusão

Os medicamentos que atuam no SNC são fundamentais para o manejo de diversas condições, desde dor e inflamação até transtornos psiquiátricos. Entretanto, seu uso exige cautela devido ao risco de dependência, efeitos colaterais e interações medicamentosas. A prescrição adequada, o acompanhamento médico e a adesão ao tratamento são essenciais para a eficácia e segurança dessas terapias.

Referências

BRUNTON, L. L.; KNOLLMANN, B. C.; HILAL-DANDAN, R. Goodman & Gilman’s: The Pharmacological Basis of Therapeutics. 14. ed. New York: McGraw-Hill, 2023.

GOODMAN, L. S.; GILMAN, A. Manual de Farmacologia e Terapêutica. 13. ed. Rio de Janeiro: McGraw-Hill, 2021.

KATZUNG, B. G. Farmacologia Básica e Clínica. 15. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021.

RANG, H. P.; DALE, M. M. Farmacologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2021.


Medicamentos do Sistema Cardiovascular

 

O sistema cardiovascular é composto pelo coração e pelos vasos sanguíneos e desempenha um papel essencial no transporte de oxigênio e nutrientes pelo organismo. Diversas condições podem comprometer seu funcionamento, como hipertensão arterial, insuficiência cardíaca, arritmias e distúrbios tromboembólicos. Para tratar essas doenças, são utilizados medicamentos que modulam a atividade cardíaca, a resistência vascular e a coagulação sanguínea.

Os principais grupos de fármacos cardiovasculares incluem os anti-hipertensivos e diuréticos,

anticoagulantes e antiarrítmicos, e estatinas e tratamento da insuficiência cardíaca (BRUNTON; KNOLLMANN; HILAL-DANDAN, 2023).

1. Anti-hipertensivos e Diuréticos

A hipertensão arterial é uma das principais causas de doenças cardiovasculares, incluindo infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral. Os anti-hipertensivos atuam reduzindo a pressão arterial por diferentes mecanismos, enquanto os diuréticos ajudam na eliminação do excesso de sódio e água, reduzindo o volume sanguíneo (KATZUNG, 2021).

1.1. Classes de Anti-hipertensivos

Os anti-hipertensivos são classificados conforme seu mecanismo de ação:

  • Inibidores da Enzima Conversora de Angiotensina (IECA): reduzem a conversão de angiotensina I em angiotensina II, promovendo vasodilatação e diminuição da pressão arterial. Exemplos: captopril, enalapril.
  • Bloqueadores dos Receptores de Angiotensina II (BRA): bloqueiam a ação da angiotensina II, prevenindo a vasoconstrição. Exemplos: losartana, valsartana.
  • Betabloqueadores: reduzem a frequência cardíaca e a contratilidade do coração, diminuindo a demanda de oxigênio. Exemplos: propranolol, metoprolol.
  • Bloqueadores dos Canais de Cálcio: inibem a entrada de cálcio nas células musculares vasculares, promovendo relaxamento dos vasos sanguíneos. Exemplos: anlodipino, verapamil.
  • Vasodilatadores Diretos: relaxam os vasos sanguíneos por ação direta no músculo liso vascular. Exemplos: hidralazina, minoxidil.

Os anti-hipertensivos devem ser escolhidos conforme o perfil do paciente e as comorbidades associadas (GOODMAN; GILMAN, 2021).

1.2. Diuréticos

Os diuréticos auxiliam na redução da pressão arterial ao promover a excreção de sódio e água pelos rins, reduzindo o volume sanguíneo circulante.

  • Diuréticos tiazídicos: inibem a reabsorção de sódio no túbulo distal, reduzindo a pressão arterial. Exemplo: hidroclorotiazida.
  • Diuréticos de alça: promovem diurese intensa ao atuar na alça de Henle. Exemplo: furosemida.
  • Diuréticos poupadores de potássio: bloqueiam a ação da aldosterona, reduzindo a retenção de sódio e a perda de potássio. Exemplo: espironolactona.

Os diuréticos são frequentemente usados em combinação com outros anti-hipertensivos para potencializar o efeito terapêutico (RANG; DALE, 2021).

2. Anticoagulantes e Antiarrítmicos

Os anticoagulantes são fármacos que impedem a formação de coágulos sanguíneos, prevenindo eventos tromboembólicos. Já os antiarrítmicos são utilizados para corrigir distúrbios do ritmo cardíaco e manter a estabilidade elétrica do coração (KATZUNG, 2021).

2.1.

Anticoagulantes

Os anticoagulantes são indicados para pacientes com risco de trombose venosa, embolia pulmonar, fibrilação atrial e outras condições cardiovasculares.

  • Anticoagulantes orais cumarínicos: inibem a síntese de fatores de coagulação dependentes da vitamina K. Exemplo: varfarina.
  • Anticoagulantes diretos: inibem diretamente a trombina ou o fator Xa, evitando a formação de trombos. Exemplos: dabigatrana (inibidor da trombina), rivaroxabana (inibidor do fator Xa).
  • Heparinas: promovem a inativação da trombina e de outros fatores de coagulação. São usadas em ambiente hospitalar. Exemplos: heparina não fracionada, enoxaparina.

A monitorização da coagulação é essencial no uso de anticoagulantes para evitar hemorragias e garantir eficácia terapêutica (GOODMAN; GILMAN, 2021).

2.2. Antiarrítmicos

As arritmias cardíacas ocorrem devido a distúrbios na condução elétrica do coração e podem ser classificadas como taquicardias (frequência cardíaca acelerada) ou bradicardias (frequência cardíaca reduzida).

Os antiarrítmicos são divididos conforme sua ação nos canais iônicos e receptores cardíacos:

  • Classe I (bloqueadores de canais de sódio): estabilizam a membrana celular e reduzem a excitabilidade cardíaca. Exemplo: lidocaína.
  • Classe II (betabloqueadores): reduzem a resposta do coração aos estímulos adrenérgicos. Exemplo: propranolol.
  • Classe III (bloqueadores dos canais de potássio): prolongam a repolarização, estabilizando o ritmo cardíaco. Exemplo: amiodarona.
  • Classe IV (bloqueadores dos canais de cálcio): reduzem a condução elétrica no nó atrioventricular. Exemplo: verapamil.

Os antiarrítmicos devem ser usados com cautela, pois podem induzir novas arritmias em alguns pacientes (RANG; DALE, 2021).

3. Estatinas e Tratamento da Insuficiência Cardíaca

A insuficiência cardíaca ocorre quando o coração perde a capacidade de bombear sangue adequadamente. As estatinas são utilizadas para reduzir o colesterol e prevenir complicações cardiovasculares (BRUNTON; KNOLLMANN; HILAL-DANDAN, 2023).

3.1. Estatinas

As estatinas inibem a enzima HMG-CoA redutase, reduzindo a síntese de colesterol pelo fígado e promovendo a redução do LDL. Exemplos incluem:

  • Sinvastatina
  • Atorvastatina
  • Rosuvastatina

Além da redução do colesterol, as estatinas possuem efeitos anti-inflamatórios e estabilizam placas ateroscleróticas, reduzindo o risco de eventos cardiovasculares (GOODMAN; GILMAN, 2021).

3.2. Tratamento da Insuficiência Cardíaca

O tratamento da insuficiência cardíaca envolve o uso de fármacos que melhoram a

contratilidade do coração e reduzem a sobrecarga cardíaca.

  • Inibidores da ECA e BRA: reduzem a pressão arterial e a resistência vascular, melhorando a função cardíaca.
  • Betabloqueadores: diminuem a frequência cardíaca e melhoram a sobrevida dos pacientes.
  • Diuréticos: ajudam a reduzir o edema e a congestão pulmonar.
  • Digitálicos: aumentam a força de contração do coração. Exemplo: digoxina.

A combinação desses medicamentos permite um melhor controle da insuficiência cardíaca, reduzindo hospitalizações e aumentando a sobrevida dos pacientes (RANG; DALE, 2021).

Conclusão

Os medicamentos cardiovasculares desempenham um papel essencial na prevenção e no tratamento de doenças como hipertensão, arritmias, insuficiência cardíaca e trombose. Seu uso adequado requer monitoramento clínico para evitar efeitos adversos e garantir eficácia terapêutica.

Referências

BRUNTON, L. L.; KNOLLMANN, B. C.; HILAL-DANDAN, R. Goodman & Gilman’s: The Pharmacological Basis of Therapeutics. 14. ed. New York: McGraw-Hill, 2023.

GOODMAN, L. S.; GILMAN, A. Manual de Farmacologia e Terapêutica. 13. ed. Rio de Janeiro: McGraw-Hill, 2021.

KATZUNG, B. G. Farmacologia Básica e Clínica. 15. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021.

RANG, H. P.; DALE, M. M. Farmacologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2021.


Antibióticos e Antivirais

 

Os agentes antimicrobianos representam um dos avanços mais significativos na medicina, permitindo o tratamento eficaz de infecções bacterianas e virais. Os antibióticos são substâncias que combatem bactérias, enquanto os antivirais inibem a replicação de vírus. No entanto, o uso inadequado desses medicamentos tem levado ao desenvolvimento da resistência bacteriana e viral, representando um desafio global à saúde pública (BRUNTON; KNOLLMANN; HILAL-DANDAN, 2023).

Este texto aborda as classes de antibióticos e seus mecanismos de ação, a resistência bacteriana e o uso racional dos antibióticos, além dos antivirais e o tratamento de infecções virais.

1. Classes de Antibióticos e Mecanismo de Ação

Os antibióticos podem ser classificados com base no seu mecanismo de ação, que inclui a inibição da síntese da parede celular, a interferência na síntese proteica, a inibição da replicação do DNA bacteriano e a interrupção da síntese de metabólitos essenciais (RANG; DALE, 2021).

1.1. Inibidores da Síntese da Parede Celular

Atuam bloqueando a formação da parede celular bacteriana, essencial para a estrutura e sobrevivência da bactéria. Exemplos incluem:

  • Beta-lactâmicos (penicilinas, cefalosporinas,
  • cefalosporinas, carbapenêmicos): inibem a transpeptidase, enzima essencial para a formação da parede celular.
  • Glicopeptídeos (vancomicina): impedem a síntese da parede celular ao se ligarem diretamente aos precursores da estrutura.

1.2. Inibidores da Síntese Proteica

Bloqueiam os ribossomos bacterianos, impedindo a produção de proteínas essenciais à sobrevivência da bactéria. Incluem:

  • Aminoglicosídeos (gentamicina, amicacina): ligam-se irreversivelmente ao ribossomo 30S, causando erros na tradução do RNA.
  • Tetraciclinas (doxiciclina, tetraciclina): impedem a ligação do RNA transportador ao ribossomo.
  • Macrolídeos (azitromicina, eritromicina): bloqueiam o ribossomo 50S, inibindo a elongação da cadeia proteica.

1.3. Inibidores da Replicação do DNA e RNA

Esses antibióticos impedem a duplicação do material genético bacteriano:

  • Fluoroquinolonas (ciprofloxacino, levofloxacino): inibem a DNA girase, impedindo a replicação do DNA.
  • Rifampicina: inibe a RNA polimerase, impedindo a transcrição genética.

1.4. Inibidores da Síntese de Metabólitos Essenciais

  • Sulfonamidas (sulfametoxazol): inibem a síntese de ácido fólico, essencial para o metabolismo bacteriano.
  • Trimetoprima: bloqueia a conversão do ácido fólico em sua forma ativa.

Cada classe de antibiótico apresenta espectro de ação específico e deve ser utilizada conforme a susceptibilidade da bactéria causadora da infecção (GOODMAN; GILMAN, 2021).

2. Resistência Bacteriana e Uso Racional

resistência bacteriana ocorre quando as bactérias desenvolvem mecanismos que reduzem a eficácia dos antibióticos. Esse fenômeno é impulsionado pelo uso inadequado de antimicrobianos e representa um dos maiores desafios da medicina moderna (KATZUNG, 2021).

2.1. Mecanismos de Resistência Bacteriana

As bactérias podem desenvolver resistência por diferentes mecanismos:

  • Mutação genética espontânea: pequenas alterações no DNA bacteriano podem gerar resistência.
  • Modificação da estrutura-alvo: a bactéria altera a estrutura onde o antibiótico age, tornando-o ineficaz.
  • Produção de enzimas inativadoras: algumas bactérias produzem beta-lactamases, enzimas que destroem antibióticos beta-lactâmicos.
  • Bomba de efluxo: expulsam os antibióticos da célula antes que exerçam seu efeito.
  • Diminuição da permeabilidade: algumas bactérias reduzem a entrada de antibióticos, tornando-se menos suscetíveis.

2.2. Estratégias para o Uso Racional de Antibióticos

Para conter a resistência bacteriana, são necessárias medidas rigorosas, incluindo:

  • Uso de antibióticos apenas quando necessário,
  • de antibióticos apenas quando necessário, evitando a automedicação.
  • Escolha do antibiótico adequado com base no perfil microbiológico da infecção.
  • Respeito à duração do tratamento para evitar o surgimento de bactérias resistentes.
  • Desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas, como antibióticos de última geração e bacteriófagos (GOODMAN; GILMAN, 2021).

A resistência bacteriana ameaça o sucesso do tratamento de infecções, tornando imprescindível o uso consciente desses medicamentos.

3. Antivirais e Tratamento de Infecções Virais

Os antivirais são fármacos que inibem a replicação viral, sendo essenciais para o tratamento de infecções como HIV, hepatites virais, herpesvírus e influenza. Diferente dos antibióticos, que atacam diretamente as bactérias, os antivirais precisam interferir nos mecanismos intracelulares que os vírus utilizam para se replicar (RANG; DALE, 2021).

3.1. Mecanismo de Ação dos Antivirais

Os antivirais atuam em diferentes etapas do ciclo de vida viral:

  • Inibidores da entrada viral: bloqueiam a ligação do vírus à célula hospedeira. Exemplo: maraviroque (HIV).
  • Inibidores da replicação do DNA/RNA viral: impedem a duplicação do material genético viral. Exemplos: aciclovir (herpes), sofosbuvir (hepatite C).
  • Inibidores da transcriptase reversa: bloqueiam a conversão do RNA viral em DNA no HIV. Exemplos: lamivudina, tenofovir.
  • Inibidores da protease viral: impedem a maturação dos vírus. Exemplos: lopinavir, ritonavir (HIV).
  • Inibidores da neuraminidase: bloqueiam a liberação de novos vírus na gripe. Exemplos: oseltamivir (Tamiflu) para influenza.

3.2. Principais Doenças Tratadas com Antivirais

Os antivirais são indicados para várias infecções virais, incluindo:

  • HIV/AIDS: combinações de inibidores da transcriptase reversa e protease.
  • Hepatite B e C: antivirais de ação direta, como entecavir e sofosbuvir.
  • Infecção pelo herpesvírus: aciclovir e valaciclovir.
  • Influenza (gripe): oseltamivir e zanamivir.

Embora os antivirais não erradiquem a infecção viral completamente, eles reduzem a carga viral e melhoram a qualidade de vida dos pacientes (BRUNTON; KNOLLMANN; HILAL-DANDAN, 2023).

Conclusão

Os antibióticos e antivirais são essenciais no combate a infecções bacterianas e virais, respectivamente. No entanto, o uso inadequado de antibióticos tem levado à resistência bacteriana, tornando algumas infecções mais difíceis de tratar. O desenvolvimento de novas classes de antimicrobianos e o uso racional desses medicamentos são fundamentais para preservar sua eficácia.

Referências

BRUNTON, L. L.; KNOLLMANN, B. C.; HILAL-DANDAN, R. Goodman & Gilman’s: The Pharmacological Basis of Therapeutics. 14. ed. New York: McGraw-Hill, 2023.

GOODMAN, L. S.; GILMAN, A. Manual de Farmacologia e Terapêutica. 13. ed. Rio de Janeiro: McGraw-Hill, 2021.

KATZUNG, B. G. Farmacologia Básica e Clínica. 15. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021.

RANG, H. P.; DALE, M. M. Farmacologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2021.

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