Introdução à Clínica Médica de Cães e Gatos

 INTRODUÇÃO À CLÍNICA MÉDICA DE CÃES E GATOS

 

 

Principais Afecções Clínicas 

Doenças Infecciosas Comuns

  

As doenças infecciosas são uma das principais causas de morbidade e mortalidade em cães e gatos. Muitas delas são altamente contagiosas e podem ser prevenidas com práticas adequadas de manejo e vacinação. Neste texto, abordaremos as principais doenças infecciosas que afetam cães e gatos, bem como a importância da vacinação na prevenção dessas condições.

Doenças Infecciosas em Cães

Entre as doenças infecciosas mais comuns em cães, destacam-se:

1. Cinomose:

  • Causa: Vírus da família Paramyxoviridae.
  • Transmissão: Contato direto com secreções de cães infectados ou por objetos contaminados.
  • Sintomas: Febre, secreção nasal e ocular, tosse, vômitos, diarreia, tremores e convulsões.
  • Prognóstico: Alta taxa de mortalidade, especialmente em filhotes não vacinados.

2. Parvovirose:

  • Causa: Parvovírus canino (CPV-2).
  • Transmissão: Contato com fezes de cães infectados ou superfícies contaminadas.
  • Sintomas: Vômitos severos, diarreia hemorrágica, desidratação e letargia.
  • Prognóstico: Letal se não tratada, principalmente em filhotes.

3. Leptospirose:

  • Causa: Bactérias do gênero Leptospira.
  • Transmissão: Contato com água, solo ou alimentos contaminados por urina de animais infectados (ratos são reservatórios comuns).
  • Sintomas: Febre, vômitos, dores musculares, insuficiência renal e icterícia.
  • Prognóstico: Potencialmente fatal sem tratamento, com risco de transmissão para humanos (zoonose).

Doenças Infecciosas em Gatos

Gatos também são suscetíveis a várias doenças infecciosas que podem comprometer gravemente sua saúde. Entre as principais, estão:

1. Panleucopenia Felina:

  • Causa: Vírus da Parvoviridae.
  • Transmissão: Contato direto com secreções corporais ou objetos contaminados.
  • Sintomas: Febre, vômitos, diarreia, perda de apetite e imunossupressão severa.
  • Prognóstico: Altamente letal em filhotes não vacinados.

2. FIV (Imunodeficiência Felina):

  • Causa: Vírus da imunodeficiência felina (Feline Immunodeficiency Virus).
  • Transmissão: Mordidas durante brigas, principalmente em gatos machos não castrados.
  • Sintomas: Imunossupressão, predispondo o gato a infecções secundárias.
  • Prognóstico: Embora não seja curável, os gatos podem viver por anos com cuidados adequados.

3. FeLV (Leucemia Viral Felina):

  • Causa: Vírus da leucemia felina (Feline Leukemia Virus).
  • Transmissão: Contato próximo com gatos infectados, como compartilhamento de tigelas, lambedura ou mordidas.
  • Sintomas: Imunossupressão, anemia, perda de peso e aumento de
  • linfonodos.
  • Prognóstico: Doença progressiva e frequentemente fatal, embora gatos infectados possam viver por algum tempo com manejo adequado.

Prevenção por Meio da Vacinação

A vacinação é a principal forma de prevenir doenças infecciosas em cães e gatos, garantindo a proteção individual e reduzindo a disseminação dessas doenças na população animal.

1. Vacinação em Cães:

  • As vacinas polivalentes (V8 ou V10) protegem contra cinomose, parvovirose, leptospirose, hepatite infecciosa e parainfluenza.
  • O protocolo vacinal geralmente inicia entre 6 e 8 semanas de idade, com reforços mensais até os 4 meses. Reforços anuais são recomendados.

2. Vacinação em Gatos:

  • A vacina polivalente (V3, V4 ou V5) protege contra panleucopenia, calicivirose, rinotraqueíte e FeLV (nas versões V4 ou V5).
  • O protocolo vacinal começa entre 6 e 9 semanas de idade, com reforços mensais até os 4 meses, seguido de reforços anuais.

3. Importância da Vacinação:

  • Reduz a ocorrência de surtos e mortalidade associada a essas doenças.
  • Protege filhotes em fases críticas de desenvolvimento, quando estão mais vulneráveis.
  • Contribui para o controle populacional de zoonoses, como a leptospirose.

Conclusão

As doenças infecciosas, como cinomose, parvovirose, panleucopenia e leucemia viral felina, representam riscos graves à saúde de cães e gatos. A vacinação é a medida mais eficaz para proteger os animais e prevenir a disseminação dessas enfermidades. Além disso, manter uma boa higiene, controle de parasitas e acompanhamento veterinário regular são práticas essenciais para garantir o bem-estar dos animais.


Problemas Dermatológicos em Cães e Gatos

 

As doenças dermatológicas são uma das causas mais frequentes de consultas veterinárias em cães e gatos. Elas podem ter diversas origens, como infecções, parasitas, alergias ou fatores ambientais, e podem comprometer significativamente a qualidade de vida dos animais. Compreender as doenças de pele mais comuns, realizar diagnósticos diferenciais e iniciar o tratamento adequado são passos cruciais para a recuperação do animal.

Doenças de Pele Mais Comuns

Entre as doenças dermatológicas mais frequentes em cães e gatos, destacam-se:

1. Dermatites:

  • Causa: Inflamações da pele causadas por irritações químicas, alergias, infecções bacterianas ou fúngicas.
  • Sintomas: Vermelhidão, coceira intensa, descamação, áreas de alopecia (perda de pelos) e presença de crostas.
  • Exemplos comuns: Dermatite alérgica à picada de pulga (DAPP) e dermatite por contato.

2. Sarna:

  • Causa: Infestações por ácaros, como 
  • Sarcoptes scabiei (sarna sarcóptica) e Demodex canis (sarna demodécica). 
  • Sintomas: Coceira intensa (principalmente na sarna sarcóptica), pele espessada, crostas, lesões e áreas sem pelos. A sarna demodécica é menos pruriginosa, mas pode causar lesões localizadas ou generalizadas.
  • Transmissão: Contato direto com animais infectados ou superfícies contaminadas, no caso da sarna sarcóptica.

3. Alergias:

  • Causa: Reações imunológicas a alimentos, picadas de insetos, alérgenos ambientais (pólen, ácaros) ou produtos químicos.
  • Sintomas: Coceira generalizada, inflamação da pele, otites frequentes e lamber ou morder áreas do corpo, especialmente patas e face.
  • Exemplos comuns: Dermatite atópica e alergias alimentares.

Diagnóstico Diferencial e Tratamento Inicial

Dada a semelhança dos sinais clínicos, o diagnóstico diferencial é essencial para determinar a causa subjacente do problema dermatológico e definir o tratamento mais eficaz.

1. Diagnóstico Diferencial:

  • Anamnese detalhada: Questionar o tutor sobre início dos sintomas, exposição a outros animais, histórico de alergias e mudanças na dieta ou ambiente.
  • Exame físico completo: Avaliar a distribuição das lesões, presença de coceira e outros sinais associados (como secreção nas orelhas ou olhos).
  • Testes laboratoriais:
    • Raspado de pele: Identifica ácaros, como os da sarna.
    • Citologia cutânea: Avalia infecções bacterianas ou fúngicas.
    • Cultura e antibiograma: Diagnostica infecções resistentes.
    • Testes de alergia ou dietas de exclusão: Identificam alergias alimentares ou ambientais.

2. Tratamento Inicial:

O tratamento depende da causa identificada, mas pode incluir:

  • Antiparasitários: Uso de produtos tópicos ou sistêmicos para eliminar ácaros ou pulgas.
  • Antibióticos ou antifúngicos: Em casos de infecções secundárias.
  • Corticosteroides ou anti-histamínicos: Para reduzir a inflamação e a coceira em alergias.
  • Dietas específicas: Para tratar alergias alimentares.
  • Xampus medicinais: Auxiliam na limpeza da pele e no controle de infecções e coceira.

Importância da Higienização e Controle Ambiental

A higienização adequada e o controle do ambiente são fundamentais para prevenir e tratar problemas dermatológicos em cães e gatos.

1. Controle de Parasitas:

  • Pulgas e carrapatos são grandes responsáveis por dermatites e alergias. O uso regular de antiparasitários, tanto no animal quanto no ambiente, é indispensável.

2. Limpeza do Ambiente:

  • Higienizar regularmente camas, mantas, brinquedos e áreas de descanso dos animais para evitar a proliferação de parasitas, fungos ou
  • regularmente camas, mantas, brinquedos e áreas de descanso dos animais para evitar a proliferação de parasitas, fungos ou bactérias.
  • Ambientes úmidos favorecem infecções fúngicas, como dermatofitoses. Manter o local seco e ventilado é essencial.

3. Cuidados com a Pele e Pelagem:

  • Escovar regularmente a pelagem ajuda a remover pelos mortos, sujeira e parasitas.
  • Banhos regulares com produtos adequados, sem exagero, evitam irritações na pele.

4. Prevenção de Alergias Ambientais:

  • Reduzir a exposição a alérgenos, como pólen, poeira e produtos químicos.
  • Utilizar produtos de limpeza hipoalergênicos e específicos para pets.

Conclusão

Os problemas dermatológicos em cães e gatos são comuns, mas podem ser tratados e prevenidos com o diagnóstico correto, manejo adequado e cuidados preventivos. A identificação precoce de sinais, a realização de diagnósticos diferenciais e a adoção de práticas de higienização no ambiente são medidas fundamentais para garantir o bem-estar dos animais e evitar complicações dermatológicas mais graves.

 

Emergências Clínicas em Cães e Gatos

 

Emergências clínicas em cães e gatos exigem atenção imediata, pois podem colocar a vida do animal em risco se não forem tratadas adequadamente. Entre as situações mais comuns estão intoxicações, traumas e distúrbios respiratórios. O reconhecimento rápido dos sinais de emergência, a aplicação de primeiros socorros básicos e o encaminhamento para atendimento especializado são essenciais para aumentar as chances de sobrevivência do animal.

Identificação de Emergências Clínicas

Reconhecer os sinais de uma emergência clínica é o primeiro passo para agir de forma eficiente.

1. Intoxicações:

Cães e gatos são suscetíveis a intoxicações por ingestão de substâncias tóxicas, como produtos de limpeza, medicamentos, plantas ou alimentos proibidos (como chocolate em cães).

  • Sinais:
    • Vômitos ou diarreia.
    • Salivação excessiva.
    • Tremores, convulsões ou fraqueza.
    • Pupilas dilatadas ou alterações no comportamento (apatia ou agitação).
  • Ação inicial:
    • Identificar a substância tóxica, se possível, e manter o rótulo para informar o veterinário.
    • Evitar provocar vômito sem orientação profissional, pois isso pode piorar a situação dependendo do tóxico ingerido.

2. Traumas:

Acidentes como atropelamentos, quedas ou mordidas podem causar lesões internas e externas.

  • Sinais:
    • Hemorragias externas ou dificuldade de locomoção.
    • Dor ao toque ou postura anormal.
    • Respiração rápida ou sinais de choque (gengivas pálidas, fraqueza).
  • Ação inicial:
    • Contenção do animal para evitar
    • movimentos bruscos que agravem a lesão.
    • Controle de sangramentos aplicando compressão direta com gaze ou pano limpo.

3. Distúrbios Respiratórios:

Problemas respiratórios podem ser causados por alergias, traumas ou obstruções.

  • Sinais:
    • Respiração acelerada, esforço para respirar ou sons anormais (chiados).
    • Língua ou mucosas azuladas (cianose).
    • Tosses frequentes ou engasgos.
  • Ação inicial:
    • Garantir que as vias aéreas estejam desobstruídas.
    • Manter o animal calmo e em posição confortável, evitando estresse adicional.

Primeiros Socorros Básicos

Os primeiros socorros visam estabilizar o animal até que ele receba atendimento especializado. É importante agir com cuidado para não agravar a situação.

1. Contenção e Segurança:

  • Utilize focinheiras ou toalhas para conter o animal, especialmente se ele estiver em pânico ou com dor.
  • Evite movimentos bruscos que possam piorar traumas ou lesões.

2. Controle de Hemorragias:

  • Aplique pressão direta sobre a área que está sangrando com um pano limpo ou gaze.
  • Se o sangramento for em um membro e for muito grave, um torniquete pode ser usado como último recurso, mas somente até que o atendimento veterinário esteja disponível.

3. Manutenção da Respiração:

  • Em caso de obstrução, como engasgo, tente abrir suavemente a boca do animal para remover o objeto.
  • Se o animal parar de respirar, pode ser necessário realizar manobras de reanimação, como compressões torácicas (em animais treinados para isso).

4. Transporte do Animal:

  • Use uma tábua ou superfície rígida para transportar animais com possíveis traumas na coluna.
  • Mantenha o animal aquecido, mas evite superaquecimento.

Encaminhamento para Atendimento Especializado

Após os primeiros socorros, é crucial levar o animal a um veterinário para avaliação e tratamento profissional. Durante o transporte:

  • Informe o veterinário com antecedência para que a equipe esteja preparada.
  • Forneça informações detalhadas sobre o que ocorreu, incluindo possíveis causas (substâncias ingeridas, natureza do trauma ou sintomas observados).

Quando priorizar o encaminhamento imediato:

  • Se o animal apresentar dificuldade respiratória persistente.
  • Em casos de intoxicação conhecida ou suspeita.
  • Hemorragias que não podem ser controladas com compressão.
  • Após convulsões, traumas graves ou sinais de choque.

Conclusão

Emergências clínicas como intoxicações, traumas e distúrbios respiratórios exigem respostas rápidas e bem orientadas. O reconhecimento dos sinais, a aplicação de primeiros socorros básicos e o encaminhamento para atendimento especializado são

cruciais para salvar a vida do animal. Ter um plano de ação e manter contato com uma clínica veterinária de confiança pode fazer toda a diferença nessas situações críticas.

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