Introdução à Saúde Bucal

 INTRODUÇÃO À SAÚDE BUCAL

 

Fundamentos da Saúde Bucal 

Conceito de Saúde Bucal

  

1. Introdução

A saúde bucal é um componente essencial da saúde geral e do bem-estar humano. Historicamente negligenciada em políticas públicas e nas práticas de cuidado integral, a saúde bucal hoje é reconhecida como um indicador relevante da qualidade de vida das populações. A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem enfatizado a importância de integrar a saúde bucal às estratégias de promoção da saúde, prevenção de doenças e acesso universal aos serviços de saúde. Neste contexto, compreender o conceito de saúde bucal, seus determinantes e sua íntima relação com a saúde geral torna-se fundamental para o desenvolvimento de políticas públicas, práticas clínicas e ações educativas.

2. O que é Saúde Bucal segundo a OMS

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a saúde bucal é definida como “um estado de bem-estar livre de dores na face e na boca, cânceres bucais e de garganta, infecções e feridas bucais, doenças periodontais, cárie dentária, perda dentária e outras doenças e distúrbios que limitam a capacidade de uma pessoa de morder, mastigar, sorrir e falar” (WHO, 2022).

Essa definição amplia a compreensão da saúde bucal além da ausência de doenças, aproximando-a do conceito holístico de saúde como um bem-estar físico, mental e social, conforme consagrado pela própria OMS. A saúde bucal, nessa perspectiva, é uma condição que permite que os indivíduos desempenhem funções essenciais, como comer e falar, e que participem socialmente sem limitações causadas por problemas odontológicos.

Além disso, a OMS destaca que a saúde bucal é determinada por fatores sociais, comportamentais, ambientais e biológicos, e que as desigualdades em saúde bucal refletem e agravam as desigualdades em saúde geral, exigindo abordagens intersetoriais e equitativas de cuidado (Petersen, 2003).

3. Saúde Bucal como Parte da Saúde Integral

A saúde bucal não pode ser dissociada do estado geral de saúde do indivíduo. Problemas bucais frequentemente se manifestam como reflexos de condições sistêmicas ou contribuem para o agravamento delas. Por exemplo, a doença periodontal tem sido associada a doenças cardiovasculares, diabetes mellitus, complicações na gravidez e até condições respiratórias. Essas correlações evidenciam que a boca não é um sistema isolado, mas parte integrante do organismo humano.

Da mesma forma, doenças sistêmicas como leucemias, anemia, HIV/AIDS e diabetes apresentam sinais precoces na cavidade bucal.

mesma forma, doenças sistêmicas como leucemias, anemia, HIV/AIDS e diabetes apresentam sinais precoces na cavidade bucal. A presença de lesões, infecções, sangramentos gengivais ou halitose pode ser o primeiro indicativo de um quadro clínico mais amplo, tornando a avaliação odontológica uma ferramenta importante no diagnóstico precoce de diversas enfermidades.

Além do aspecto clínico, a saúde bucal impacta diretamente a qualidade de vida. A dor de dente, por exemplo, pode interferir na alimentação, no sono e no desempenho escolar ou profissional. A perda dentária ou a má aparência estética dos dentes pode levar à baixa autoestima, isolamento social e até depressão, principalmente entre adolescentes e idosos.

4. Determinantes da Saúde Bucal

A saúde bucal é influenciada por uma série de fatores determinantes sociais e econômicos. Entre eles, destacam-se:

  • Nível de renda e escolaridade;
  • Acesso a serviços de saúde odontológica;
  • Disponibilidade de água fluoretada e produtos de higiene;
  • Hábitos alimentares e culturais;
  • Educação em saúde.

Estudos apontam que a cárie dentária e as doenças periodontais afetam desproporcionalmente populações vulneráveis, como pessoas em situação de pobreza, moradores de áreas rurais, negros, indígenas e pessoas com deficiência (Narvai, 2010). Isso demonstra que a promoção da saúde bucal exige ações integradas de combate às desigualdades sociais e acesso universal aos serviços públicos de saúde.

No Brasil, o Programa Brasil Sorridente, inserido na Estratégia Saúde da Família, é uma tentativa de ampliar o acesso à atenção básica em saúde bucal, valorizando a prevenção, o cuidado contínuo e o trabalho interdisciplinar.

5. A Integração da Saúde Bucal nas Políticas Públicas

A separação histórica entre os serviços odontológicos e os demais serviços de saúde tem sido uma barreira para a integralidade do cuidado. A OMS e outras entidades internacionais defendem a integração da saúde bucal nos sistemas de atenção primária, propondo abordagens que envolvam médicos, enfermeiros, agentes comunitários e outros profissionais da saúde na detecção e encaminhamento de problemas bucais.

Além disso, a promoção da saúde bucal deve ser vista como uma responsabilidade coletiva, envolvendo escolas, ambientes de trabalho, instituições religiosas, meios de comunicação e políticas públicas urbanas, como o saneamento básico e o controle do marketing de alimentos ultraprocessados.

A educação em saúde bucal é uma ferramenta essencial nesse processo, não apenas para ensinar

técnicas de escovação e higiene, mas para desenvolver a autonomia das pessoas no cuidado com sua saúde.

6. Considerações Finais

A saúde bucal, segundo a OMS, é muito mais do que dentes sem cárie ou gengivas sem sangramento. Trata-se de um estado de bem-estar que permite às pessoas viverem com dignidade, exercerem suas funções sociais e manterem sua saúde geral em equilíbrio. Sua relação intrínseca com o organismo como um todo exige uma abordagem integrada, multidisciplinar e equitativa.

Nesse sentido, é fundamental que profissionais da saúde, educadores, gestores públicos e a sociedade em geral reconheçam a importância da saúde bucal e lutem para que ela seja garantida como direito de todos.

Referências Bibliográficas

  • Organização Mundial da Saúde (OMS). Global Oral Health Status Report: Towards universal health coverage for oral health by 2030. Geneva: WHO, 2022.
  • Petersen, P. E. (2003). The World Oral Health Report 2003: Continuous improvement of oral health in the 21st century. Community Dentistry and Oral Epidemiology, 31(Suppl. 1), 3–24.
  • Narvai, P. C. (2010). Saúde Bucal no Brasil: muito além do céu da boca. Ciência & Saúde Coletiva, 15(1), 31–41.
  • Sheiham, A., & Watt, R. G. (2000). The common risk factor approach: a rational basis for promoting oral health. Community Dentistry and Oral Epidemiology, 28(6), 399–406.
  • Ministério da Saúde (Brasil). Diretrizes da Política Nacional de Saúde Bucal. Brasília: MS, 2004.


A Importância da Boca na Qualidade de Vida

1. Introdução

A boca é uma das regiões mais importantes do corpo humano, não apenas por suas funções fisiológicas, mas também por seu papel social, afetivo e simbólico. A saúde bucal impacta diretamente a alimentação, a fala, a autoestima, a comunicação e a integração social. Assim, qualquer comprometimento dessa estrutura pode interferir significativamente na qualidade de vida de um indivíduo.

Apesar de muitas vezes negligenciada, a saúde bucal deve ser compreendida como um componente fundamental da saúde geral, e sua preservação é indispensável para o bem-estar físico e emocional das pessoas. Este texto tem como objetivo abordar as múltiplas formas pelas quais a boca influencia a qualidade de vida, destacando aspectos funcionais, estéticos, emocionais e sociais.

2. A Boca como Estrutura Funcional Essencial

A boca é responsável por funções primordiais à sobrevivência e ao desenvolvimento humano, como a mastigação, a deglutição, a articulação da fala e a respiração. Qualquer comprometimento nessas funções pode gerar

impactos relevantes na saúde sistêmica e no desempenho social do indivíduo.

Problemas como perda dentáriador de dente crônicaferidas orais ou alterações na mucosa prejudicam o ato de comer, levando muitas vezes à ingestão insuficiente de nutrientes e à desnutrição. A dor e a dificuldade para mastigar afetam principalmente os idosos e pessoas em situação de vulnerabilidade, comprometendo sua saúde geral e sua autonomia.

Além disso, a boca é um órgão importante para a comunicação verbal. Dificuldades na fala, decorrentes de alterações nos dentes, na língua ou na articulação mandibular, podem prejudicar a expressão de ideias e emoções, impactando diretamente a vida escolar, profissional e social das pessoas.

3. Aspectos Estéticos e Psicossociais

A aparência bucal exerce um papel central na formação da autoestima e da imagem pessoal. A presença de dentes visivelmente comprometidos, cáries expostas, halitose ou alterações estéticas nos dentes anteriores pode causar constrangimento, ansiedade social e até isolamento.

Segundo estudos na área da odontologia social, pessoas com problemas bucais visíveis tendem a evitar sorrir, falar em público ou participar de eventos sociais e profissionais. Em adolescentes e jovens, a estética bucal pode ser um fator determinante de aceitação em grupos sociais, influenciando o desenvolvimento de habilidades interpessoais.

Para muitos indivíduos, o sorriso é uma forma de expressão emocional e afetiva. A inibição do sorriso como consequência de problemas bucais interfere na construção de vínculos, na afetividade e na identidade pessoal. Dessa forma, a saúde bucal está diretamente relacionada à autoimagem, à confiança e à satisfação com a própria vida.

4. A Boca como Indicadora de Doenças Sistêmicas

A cavidade bucal também serve como uma “janela” para a saúde geral, já que diversas doenças sistêmicas se manifestam por meio de sinais bucais. Condições como diabetesHIV/AIDSanemiasdoenças autoimunes e até cânceres podem apresentar sintomas bucais como sangramentos gengivais, candidíase, úlceras persistentes e alterações na coloração das mucosas.

A presença de doenças periodontais, como a gengivite e a periodontite, tem sido associada a doenças cardiovasculares, complicações gestacionais, diabetes descompensada e infecções respiratórias. Isso significa que a saúde da boca pode tanto refletir quanto afetar o estado geral do organismo, sendo, portanto, um componente essencial da saúde integral.

Assim, a atenção à saúde bucal deve fazer

parte de qualquer estratégia de promoção da saúde, prevenção de agravos e cuidado contínuo. A negligência nesse aspecto pode comprometer o diagnóstico precoce de doenças e aumentar os custos com tratamentos curativos.

5. Impactos na Qualidade de Vida Relacionada à Saúde Bucal

A expressão “Qualidade de Vida Relacionada à Saúde Bucal” (QVRSB) refere-se à percepção que o indivíduo tem sobre como a sua saúde bucal influencia seu bem-estar físico, psicológico e social. Essa avaliação inclui aspectos como dor, desconforto, restrições alimentares, aparência, dificuldades de fala e efeitos emocionais.

Pesquisas indicam que a presença de dor dentária, por exemplo, está fortemente associada a perda de produtividade no trabalho, faltas escolares e limitações nas atividades diárias. Crianças com problemas dentários tendem a ter desempenho escolar prejudicado, enquanto adultos podem desenvolver depressão ou ansiedade decorrente do sofrimento bucal.

A QVRSB é, portanto, uma métrica importante para a avaliação de políticas públicas, estratégias de atenção básica e ações educativas, pois revela o impacto concreto das condições bucais na vida das pessoas, para além dos diagnósticos clínicos.

6. Considerações Finais

A boca, por sua multiplicidade de funções e simbolismos, é uma estrutura vital para a qualidade de vida humana. A saúde bucal, ao influenciar diretamente a alimentação, a comunicação, a estética e o bem-estar psicológico, deve ser tratada como uma prioridade em qualquer proposta de cuidado integral à saúde.

Garantir a saúde da boca não é apenas tratar dentes cariados ou gengivas inflamadas. É promover a dignidade, a autoestima, a inclusão social e o direito de todos viverem com conforto, segurança e bem-estar. Portanto, investir em saúde bucal é investir na qualidade de vida de toda a população.

Referências Bibliográficas

  • Petersen, P. E. (2003). The World Oral Health Report 2003: Continuous improvement of oral health in the 21st century. Community Dentistry and Oral Epidemiology, 31(Suppl. 1), 3–24.
  • Locker, D. (1997). Concepts of oral health, disease and the quality of life. In: Slade, G. D. (Ed.), Measuring Oral Health and Quality of Life (pp. 11–23). Chapel Hill: University of North Carolina.
  • Narvai, P. C. (2000). Saúde bucal: muito além da boca. Revista Ciência & Saúde Coletiva, 5(1), 7–18.
  • Sheiham, A. (2005). Oral health, general health and quality of life. Bulletin of the World Health Organization, 83(9), 644–645.
  • Organização Mundial da Saúde (OMS). Global Oral Health
  • Status Report. Geneva: WHO, 2022.
  • Brasil. Ministério da Saúde. Diretrizes da Política Nacional de Saúde Bucal. Brasília: MS, 2004.

 

Anatomia e Fisiologia Bucal Básica

 

1. Introdução

A cavidade bucal é a porta de entrada do sistema digestório e exerce papel fundamental na mastigação, na deglutição, na fonação e na proteção do organismo. A compreensão da anatomia e da fisiologia bucal é essencial para promover a saúde oral e prevenir doenças que possam comprometer o funcionamento do corpo como um todo. Este texto apresenta uma visão geral das principais estruturas da boca, suas funções fisiológicas e a importância da saliva e da microbiota bucal, com foco introdutório e educativo.

2. Principais Estruturas da Cavidade Oral

A cavidade oral é composta por diversas estruturas que atuam em conjunto para garantir funções básicas como alimentação, fala e respiração. As principais estruturas anatômicas são os dentes, a gengiva, a língua e o palato.

2.1 Dentes

Os dentes são estruturas calcificadas implantadas nos ossos maxilares (maxila e mandíbula) e estão organizados em duas arcadas: superior e inferior. São fundamentais para a mastigação dos alimentos, para a articulação da fala e para a estética facial. Um adulto saudável possui 32 dentes permanentes.

2.2 Gengiva

A gengiva é o tecido mole que recobre os ossos alveolares e envolve a base dos dentes. Sua principal função é proteger a região periodontal contra agentes externos, formando uma barreira física contra bactérias e traumas mecânicos. Gengivas saudáveis são firmes, rosadas e não apresentam sangramentos espontâneos.

2.3 Língua

A língua é um órgão muscular altamente móvel que desempenha funções importantes na manipulação dos alimentos durante a mastigação, na deglutição e na articulação da fala. Também abriga as papilas gustativas, responsáveis pela percepção do sabor, e participa da limpeza da cavidade oral. Sua estrutura está dividida em ápice, corpo e base.

2.4 Palato

O palato é o "teto" da boca e é dividido em duas partes: o palato duro (anterior), formado por ossos, e o palato mole (posterior), composto por tecidos moles que se movem durante a deglutição e a fonação. O palato separa a cavidade oral da cavidade nasal e participa da ressonância vocal.

3. Funções da Saliva e da Microbiota Bucal

3.1 Saliva

A saliva é um fluido claro e viscoso produzido pelas glândulas salivares (parótida, submandibular e sublingual). Sua composição inclui água, enzimas digestivas, eletrólitos, proteínas e imunoglobulinas. Suas principais

funções incluem:

  • Lubrificação: facilita a mastigação, a fala e a deglutição;
  • Digestão: inicia o processo digestivo com a enzima amilase salivar (ptialina), que quebra o amido;
  • Limpeza: ajuda na remoção de restos alimentares e na manutenção do pH bucal;
  • Proteção: contém compostos antimicrobianos que inibem o crescimento de bactérias patogênicas;
  • Cicatrização: promove a regeneração do tecido oral através de fatores de crescimento.

A diminuição da produção salivar (xerostomia) compromete a saúde oral e aumenta o risco de cáries, infecções fúngicas e desconforto bucal.

3.2 Microbiota Bucal

A cavidade oral abriga uma microbiota diversificada, composta por bactérias, fungos e vírus que coexistem em equilíbrio com o organismo hospedeiro. Entre as funções benéficas da microbiota bucal estão:

  • Competição com microrganismos patogênicos;
  • Estímulo ao sistema imunológico local;
  • Participação na digestão inicial de alguns nutrientes.

No entanto, esse equilíbrio pode ser rompido por fatores como má higiene bucal, uso indiscriminado de antibióticos, dieta rica em açúcares ou imunossupressão, resultando em disbiose. A disbiose favorece o desenvolvimento de doenças como cárie, gengivite, periodontite e candidíase oral.

4. Tipos de Dentes e Suas Funções

Os dentes são classificados de acordo com sua forma e função na arcada dentária. Cada tipo de dente possui uma função específica no processo de mastigação e contribui para a estética e a fonação.

4.1 Incisivos

São os dentes anteriores, localizados na parte frontal da arcada (quatro superiores e quatro inferiores). Apresentam bordas cortantes e são responsáveis por cortar os alimentos. Também têm papel importante na estética do sorriso.

4.2 Caninos

Situados ao lado dos incisivos, um de cada lado da arcada superior e inferior, os caninos têm formato pontiagudo e função de perfurar e rasgar alimentos mais resistentes, como carnes. São dentes de raiz longa e forte, auxiliando na estabilidade da arcada.

4.3 Pré-molares

Estão localizados entre os caninos e os molares. Possuem duas cúspides (pontas) e são adaptados para esmagar e triturar alimentos. Cada adulto possui quatro pré-molares em cada arcada (total de oito).

4.4 Molares

Localizados na parte posterior da boca, os molares apresentam várias cúspides e ampla superfície oclusal. São responsáveis por moer e triturar os alimentos antes da deglutição. Em adultos, há seis molares por arcada, incluindo os terceiros molares, conhecidos como dentes do siso.

A disposição e o funcionamento harmônico desses

dentes são essenciais para uma mastigação eficiente e para a saúde do sistema digestivo.

5. Considerações Finais

A cavidade bucal é um complexo sistema anatômico e funcional que atua em múltiplos aspectos da vida humana. Seus elementos — dentes, gengiva, língua, palato, saliva e microbiota — contribuem para a nutrição, a comunicação, a estética, a imunidade e o bem-estar geral. O conhecimento básico sobre essas estruturas é fundamental para compreender a importância da higiene bucal e da prevenção de doenças.

A promoção da saúde bucal deve ser vista como parte integrante da promoção da saúde geral, com foco na educação, na prevenção e no cuidado contínuo, respeitando as especificidades de cada indivíduo e fase da vida.

Referências Bibliográficas

  • Ten Cate, A. R. (2008). Histologia Oral: desenvolvimento, estrutura e função. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier.
  • Silva, J. L. G.; Imparato, J. C. P. (2006). Odontopediatria: bases para a prática clínica em bebês, crianças e adolescentes. São Paulo: Santos.
  • Negrato, C. A. (2009). Microbiota bucal e suas relações com a saúde geral. Jornal da Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas, 63(2), 116-120.
  • Organização Mundial da Saúde (OMS). Oral Health. Geneva: WHO, 2022. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/oral-health
  • Brasil. Ministério da Saúde. Cadernos de Atenção Básica: Saúde Bucal. Brasília: MS, 2008.


Principais Doenças Bucais

1. Introdução

A cavidade bucal é suscetível a uma variedade de doenças que afetam tanto os tecidos duros quanto os tecidos moles. Muitas dessas doenças são de origem multifatorial e, quando não tratadas adequadamente, podem comprometer a saúde geral, causar dor, prejuízos funcionais, estéticos e sociais. Entre as doenças bucais mais prevalentes estão a cárie dentária, a gengivite, a periodontite, a halitose e lesões como aftas e herpes labial. Este texto aborda essas condições de forma introdutória, destacando suas causas, sinais, consequências e medidas de prevenção.

2. Cárie Dentária

cárie dentária é uma doença infecciosa, multifatorial, de caráter progressivo, que provoca a desmineralização dos tecidos duros do dente (esmalte, dentina e, em estágios avançados, a polpa). É causada pela ação de ácidos produzidos por bactérias da placa bacteriana que metabolizam açúcares da dieta, principalmente sacarose.

Os microrganismos mais associados à cárie são os Streptococcus mutans e os Lactobacillus spp. A formação de biofilme dental (placa) associada a uma dieta rica em açúcares

fermentáveis e à higiene bucal inadequada cria um ambiente propício para a evolução da lesão cariosa.

Os sinais clínicos incluem manchas brancas opacas (estágio inicial), cavitações visíveis, sensibilidade a alimentos doces, frios ou quentes, e dor dentária. Se não tratada, a cárie pode evoluir para infecções mais graves, como abscessos dentários.

A prevenção envolve escovação adequada com creme dental fluoretado, uso diário de fio dental, alimentação balanceada com restrição de açúcares e visitas regulares ao cirurgião-dentista.

3. Gengivite e Periodontite

gengivite é uma inflamação da gengiva causada principalmente pela acumulação de placa bacteriana na margem gengival. É a forma mais comum de doença periodontal e caracteriza-se por vermelhidão, inchaço, sangramento ao escovar e mau hálito. A gengivite é reversível com a remoção da placa e melhora da higiene bucal.

Se não tratada, a gengivite pode progredir para periodontite, uma condição inflamatória crônica que afeta os tecidos de suporte dos dentes (ligamento periodontal, cemento e osso alveolar). Na periodontite, ocorre destruição progressiva dessas estruturas, podendo levar à mobilidade e à perda dentária.

Além da placa bacteriana, fatores como tabagismo, diabetes mellitus, estresse, predisposição genética e má oclusão dentária contribuem para o agravamento da doença periodontal.

O tratamento envolve raspagens para remoção do tártaro, instrução de higiene oral, controle de fatores de risco e, em casos avançados, intervenção cirúrgica. A manutenção preventiva periódica é essencial para controlar a progressão da doença.

4. Halitose

halitose, conhecida popularmente como mau hálito, é um problema que afeta milhões de pessoas e pode ter origem na própria cavidade bucal ou em condições sistêmicas. Estima-se que cerca de 85% dos casos de halitose sejam de origem bucal, causados por acúmulo de placa, presença de cáries, gengivite, periodontite, saburra lingual (placa bacteriana na língua) e diminuição do fluxo salivar.

A decomposição de restos alimentares e células epiteliais por bactérias anaeróbias produz compostos sulfurados voláteis (CSV), como o sulfeto de hidrogênio, responsáveis pelo odor desagradável. O jejum prolongado, hidratação inadequada e o consumo de certos alimentos (como alho e cebola) também podem intensificar o problema.

Embora não seja uma doença em si, a halitose pode ser um sintoma de alterações bucais ou sistêmicas (distúrbios gastrointestinais, respiratórios ou hepáticos) e tem implicações

sociais e psicológicas importantes.

A abordagem terapêutica inclui diagnóstico da causa, tratamento das doenças bucais associadas, higienização da língua, controle alimentar e aumento da salivação, além de orientações comportamentais.

5. Lesões Bucais Comuns: Aftas e Herpes Labial

5.1 Aftas (Estomatite Aftosa Recorrente)

As aftas são úlceras dolorosas, superficiais, arredondadas, de coloração esbranquiçada ou amarelada com halo avermelhado, que aparecem principalmente em mucosas móveis (lábios, bochechas, língua). Apesar de benignas, são bastante incômodas e podem dificultar a alimentação e a fala.

A etiologia das aftas é multifatorial e ainda não totalmente compreendida. Fatores predisponentes incluem traumas locais, estresse, distúrbios imunológicos, deficiência de vitaminas (especialmente B12, ferro e ácido fólico), alterações hormonais e predisposição genética.

O tratamento é sintomático, incluindo uso de antissépticos bucais, anestésicos locais e, em casos mais intensos, corticoides tópicos. A recorrência é comum, mas geralmente não representa risco grave à saúde.

5.2 Herpes Labial

herpes labial é uma infecção viral recorrente causada pelo vírus herpes simples tipo 1 (HSV-1). Após a infecção primária, geralmente assintomática ou com sintomas leves na infância, o vírus permanece latente nos gânglios nervosos e pode ser reativado por estresse, exposição solar, febre ou imunossupressão.

As lesões aparecem geralmente nos lábios ou ao redor da boca, na forma de vesículas agrupadas que evoluem para úlceras dolorosas, com posterior formação de crostas. O quadro dura de 7 a 14 dias e pode ser acompanhado de ardência ou prurido local.

O tratamento visa aliviar os sintomas e acelerar a cicatrização, utilizando antivirais tópicos ou sistêmicos (como aciclovir). A prevenção envolve evitar o contato direto com lesões ativas e adotar medidas de proteção solar labial.

6. Considerações Finais

As doenças bucais, embora em sua maioria preveníveis, continuam a ser um problema de saúde pública global. Elas afetam não apenas o bem-estar físico, mas também a autoestima, a alimentação, a comunicação e a vida social das pessoas. A adoção de hábitos saudáveis, a higiene bucal adequada e o acompanhamento profissional periódico são fundamentais para a prevenção e o controle dessas condições.

O conhecimento sobre as principais doenças da boca é essencial para a promoção da saúde bucal e para o empoderamento das pessoas no cuidado com sua própria saúde. Com educação, prevenção e acesso

universal ao atendimento odontológico, é possível reduzir significativamente o impacto dessas enfermidades na vida da população.

Referências Bibliográficas

  • Brasil. Ministério da Saúde. Cadernos de Atenção Básica: Saúde Bucal. Brasília: MS, 2008.
  • Organização Mundial da Saúde (OMS). Oral health. Geneva: WHO, 2022.
  • FDI World Dental Federation. Oral health and general health. Genebra: FDI, 2016.
  • Nadanovsky, P.; Abreu, M. H. G. (2008). Epidemiologia da saúde bucal. In: Alves, M. C. G. P. (org.). Epidemiologia em serviço: teoria e prática. Rio de Janeiro: FIOCRUZ.
  • Negrato, C. A.; Tarzia, O. (2005). Halitose: aspectos clínicos e tratamento. Jornal Brasileiro de Odontologia, 54(2), 66–70.
  • Scully, C.; Felix, D. H. (2005). Oral medicine—update for the dental practitioner: aphthous and other common ulcers. British Dental Journal, 199(5), 259–264.
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