Básico de Primeiros Socorros em Afogamentos

 BÁSICO DE PRIMEIROS SOCORROS EM AFOGAMENTOS

 

Cuidados Pós-Salvamento e Emergências Associadas 

Primeiros Cuidados Após o Resgate

 

Após o resgate de uma vítima de afogamento, é essencial realizar uma avaliação imediata e prestar os primeiros cuidados adequados para aumentar as chances de sobrevivência e recuperação. Esses cuidados incluem a avaliação do estado da vítima, o reconhecimento de hipotermia e o tratamento de lesões internas que possam ter ocorrido durante o evento.

Avaliação do Estado da Vítima (Consciência, Respiração, Pulso)

A avaliação rápida do estado da vítima é fundamental para determinar os próximos passos após o resgate.

1.     Consciência: Verifique se a vítima está consciente. Tente chamar a vítima pelo nome (se conhecido) ou dar estímulos verbais e físicos leves, como sacudir os ombros. Se a vítima responder de alguma forma, mesmo que levemente, ela está consciente e precisará de cuidados de suporte enquanto aguarda a chegada de ajuda profissional.

2.     Respiração: Caso a vítima não responda, verifique imediatamente se está respirando. Observe o movimento do tórax ou ouça sons de respiração. Se não houver sinais de respiração ou se a respiração estiver anormal (ofegante ou fraca), inicie a reanimação cardiopulmonar (RCP) imediatamente. Se a vítima estiver respirando, mas de forma irregular, continue monitorando e prepare-se para iniciar a RCP, se necessário.

3.     Pulso: Verifique o pulso da vítima. O local mais indicado é a artéria carótida, localizada no pescoço, logo abaixo da mandíbula. Se o pulso estiver presente, mas a vítima estiver inconsciente, continue monitorando a respiração e os sinais vitais, mantendo a vítima deitada em uma posição estável até a chegada de ajuda médica. Se o pulso não for detectado, inicie a RCP imediatamente.

Hipotermia: Reconhecimento e Tratamento

Em casos de afogamento, especialmente em águas frias, a hipotermia é um risco sério. A hipotermia ocorre quando a temperatura corporal da vítima cai abaixo de 35°C, o que pode resultar em complicações graves e até a morte se não for tratada adequadamente.

Sinais de hipotermia:

  • Pele fria e pálida
  • Tremores incontroláveis
  • Fadiga extrema ou sonolência
  • Confusão ou comportamento incoerente
  • Respiração e pulso lentos
  • Em casos graves, perda de consciência

Tratamento da hipotermia:

1.     Remover a vítima da água e aquecê-la: A primeira medida é retirar a vítima do ambiente frio e remover qualquer roupa molhada. A roupa molhada deve ser trocada por roupas secas e quentes ou

cobertores, para ajudar a aquecer o corpo gradualmente.

2.     Evitar aquecimento rápido: Não tente aquecer a vítima rapidamente com fontes de calor intensas, como água quente ou aquecedores diretos. Isso pode causar choque térmico. O aquecimento deve ser feito de maneira gradual, usando cobertores ou aquecedores moderados.

3.     Manter a vítima deitada e imóvel: O movimento excessivo pode piorar a hipotermia e causar arritmias cardíacas. Mantenha a vítima deitada e o mais imóvel possível.

4.     Fornecer líquidos quentes (se consciente): Se a vítima estiver consciente e sem risco de engasgo, ofereça líquidos mornos (não quentes) para ajudar no aquecimento interno. Evite bebidas alcoólicas ou cafeinadas, pois podem piorar a condição.

Cuidados com Possíveis Lesões Internas

Durante o processo de afogamento e resgate, a vítima pode ter sofrido lesões internas que não são imediatamente visíveis, como contusões, fraturas ou lesões causadas pela entrada de água nos pulmões.

Água nos pulmões (Edema Pulmonar): Em casos de afogamento, a aspiração de água pode causar edema pulmonar, uma condição na qual o líquido se acumula nos pulmões, dificultando a respiração. Mesmo que a vítima tenha sido resgatada com vida, ela pode desenvolver complicações horas após o resgate, como dificuldade respiratória ou tosse com sangue. É fundamental encaminhar a vítima para atendimento médico para monitoramento e tratamento adequado.

Lesões por impacto: Se a vítima foi resgatada de uma queda em uma piscina, lago ou rio, é importante avaliar possíveis fraturas ou lesões na cabeça, coluna ou membros. Se houver suspeita de fratura ou lesão espinhal, a vítima deve ser mantida imóvel até que os profissionais de emergência assumam o cuidado.

Trauma abdominal: Durante o resgate, a pressão exercida sobre o tórax e abdômen, ou o impacto na água, pode causar lesões internas. Se a vítima estiver reclamando de dor abdominal ou houver sinais de distensão ou sensibilidade na área, deve ser imediatamente encaminhada ao hospital para uma avaliação mais aprofundada.

Considerações Finais

Os primeiros cuidados após o resgate são cruciais para a recuperação de uma vítima de afogamento. Avaliar a consciência, respiração e pulso rapidamente, identificar e tratar hipotermia, e estar atento a possíveis lesões internas aumentam significativamente as chances de sobrevivência. A vítima deve ser sempre monitorada até que a equipe médica chegue, e nunca se deve subestimar os sinais de complicações, mesmo após um aparente

sucesso no resgate.


Atendimento de Emergências Associadas

 

Em casos de afogamento, é comum que ocorram emergências adicionais que exigem atenção imediata, como aspiração de água, afogamento seco, choque e parada respiratória. O manejo adequado dessas condições, aliado ao chamado rápido por ajuda médica, é crucial para aumentar as chances de sobrevivência da vítima.

Aspiração de Água e Afogamento Seco

Aspiração de Água: Quando uma pessoa aspira água durante o processo de afogamento, essa água entra nas vias aéreas, causando irritação, inflamação e bloqueio parcial ou completo dos pulmões. Isso pode resultar em edema pulmonar, uma condição em que o líquido interfere na troca de oxigênio nos pulmões, dificultando a respiração. A aspiração de água pode ocorrer mesmo após a vítima ser retirada da água, o que torna essencial o monitoramento contínuo.

Sinais e sintomas de aspiração de água:

  • Dificuldade respiratória
  • Tosse persistente, frequentemente com espuma
  • Sons "chiados" ao respirar (sibilos)
  • Sensação de opressão no peito
  • Cianose (pele azulada), especialmente nos lábios e dedos

Afogamento Seco: O afogamento seco ocorre quando, após a submersão, a vítima não aspira uma quantidade significativa de água, mas a água que entra em contato com a laringe causa um reflexo de fechamento das vias aéreas, levando à asfixia. A vítima pode parecer estável logo após o resgate, mas o fechamento das vias aéreas pode ocorrer minutos ou horas após o evento, resultando em dificuldades respiratórias repentinas.

Sinais de afogamento seco:

  • Tosse intensa
  • Falta de ar súbita
  • Dificuldade de respirar ou engolir
  • Respiração ofegante ou chiada
  • Cianose

Em ambos os casos, é fundamental encaminhar a vítima para atendimento médico mesmo que ela pareça estável, pois complicações podem se desenvolver horas após o incidente.

Tratamento de Choque e Parada Respiratória

Choque: O choque pode ocorrer após um afogamento, especialmente se a vítima passar muito tempo submersa ou for retirada de águas extremamente frias, o que pode comprometer a circulação sanguínea e o fornecimento de oxigênio para os órgãos vitais. O choque é uma condição grave que requer tratamento imediato para evitar a falência dos órgãos.

Sinais de choque:

  • Pele pálida, fria e úmida
  • Respiração rápida e superficial
  • Pulso fraco e rápido
  • Tontura ou desmaio
  • Confusão ou inconsciência

Tratamento de choque:

1.     Deitar a vítima com as pernas elevadas: Elevar as pernas da vítima pode ajudar a aumentar o fluxo sanguíneo para o coração e o cérebro.

2.     Manter a

vítima aquecida: Cubra a vítima com cobertores ou roupas secas para evitar a perda de calor corporal e o agravamento do choque.

3.     Chamar por ajuda médica imediatamente: O tratamento médico adequado é fundamental para estabilizar a vítima.

Parada Respiratória: Em muitos casos de afogamento, a falta de oxigênio pode levar à parada respiratória, onde a vítima para de respirar completamente. A parada respiratória rapidamente leva à parada cardíaca, e ambas requerem intervenção imediata.

Tratamento de parada respiratória:

  • Iniciar RCP (Reanimação Cardiopulmonar) imediatamente: Se a vítima não estiver respirando, comece a RCP com 30 compressões torácicas seguidas de 2 ventilações (boca a boca) e continue até a chegada de ajuda médica ou até a vítima mostrar sinais de recuperação.
  • Uso do DEA (Desfibrilador Externo Automático): Se disponível, o DEA deve ser usado para verificar e tratar ritmos cardíacos anormais após a parada respiratória ou cardíaca.

Protocolos para Chamar Ajuda Médica

Sempre que você enfrentar uma emergência relacionada ao afogamento, é essencial chamar por ajuda médica o mais rápido possível. Seguir protocolos claros garante que a vítima receba atendimento especializado o quanto antes.

1. Chamar o Serviço de Emergência:

  • Ligue imediatamente para o número de emergência local (como 192 no Brasil) ou peça para que alguém faça isso enquanto você presta os primeiros socorros.
  • Informe claramente a situação: diga que a vítima sofreu um afogamento, descreva seu estado (consciente ou inconsciente, respirando ou não) e a localização exata do incidente.

2. Informar Condições da Vítima:

  • Ao falar com o serviço de emergência, forneça detalhes sobre o que ocorreu, o tempo de submersão e o que já foi feito, como o uso de RCP ou DEA.
  • Mencione se há sinais de aspiração de água, afogamento seco, choque ou hipotermia.

3. Continuar os Primeiros Socorros:

  • Continue prestando os primeiros socorros (como RCP) até que o atendimento médico especializado chegue. Monitore constantemente os sinais vitais da vítima (pulso e respiração) e esteja preparado para ajustar o atendimento conforme necessário.

O atendimento imediato e eficaz em casos de afogamento, combinado com o acionamento rápido dos serviços médicos, pode ser determinante para salvar vidas e evitar complicações graves.


Transporte e Cuidados Avançados

 

Após o resgate e os primeiros socorros em uma vítima de afogamento, o transporte para uma unidade médica é crucial para garantir que ela receba cuidados avançados e tenha maiores

chances de recuperação completa. Estabilizar a vítima para o transporte e fornecer informações essenciais à equipe de emergência são passos importantes nesse processo. Além disso, o acompanhamento hospitalar é fundamental para tratar complicações que podem surgir após o afogamento.

Estabilização da Vítima para o Transporte

Antes do transporte para uma unidade médica, a vítima deve ser devidamente estabilizada. Isso ajuda a evitar o agravamento de lesões e melhora as chances de uma recuperação segura.

1.     Manter as vias aéreas abertas: Se a vítima não estiver consciente, continue garantindo que as vias aéreas estejam desobstruídas. Caso a vítima tenha vômito, posicione-a em posição lateral de segurança (decúbito lateral) para evitar que aspire o conteúdo.

2.     Controlar a respiração e a circulação: Verifique constantemente se a vítima está respirando e se o coração está batendo. Se a vítima estiver inconsciente, continue a reanimação cardiopulmonar (RCP) até a chegada da equipe de emergência. Se houver sinais de choque ou hipotermia, continue tomando medidas para mantê-la aquecida e confortável.

3.     Imobilização: Se houver suspeita de lesões na coluna, cabeça ou pescoço, é fundamental imobilizar a vítima para evitar o agravamento dessas lesões durante o transporte. Isso pode ser feito utilizando colares cervicais e pranchas rígidas, se disponíveis.

4.     Posicionamento adequado: Para facilitar a respiração e o controle dos sinais vitais, a vítima deve ser mantida deitada em uma posição confortável, com a cabeça levemente elevada ou de lado, caso haja risco de aspiração.

Informações Essenciais para Fornecer à Equipe de Emergência

Quando a equipe de emergência chegar ao local, fornecer informações detalhadas e claras sobre a situação da vítima pode ajudar no tratamento adequado e rápido. As informações essenciais incluem:

1.     Tempo de submersão: Informe o tempo estimado que a vítima ficou submersa ou exposta à água. Essa informação ajuda a equipe a avaliar o grau de complicações, como danos cerebrais por falta de oxigênio.

2.     Condições do resgate: Descreva como a vítima foi resgatada, incluindo o local (piscina, rio, mar) e se houve correntes ou outras condições adversas. Essas informações podem ajudar a identificar possíveis lesões relacionadas ao ambiente.

3.     Estado da vítima durante o resgate: Informe se a vítima estava consciente ou inconsciente quando foi retirada da água e se precisou de manobras de RCP. Detalhe a condição atual da vítima,

incluindo respiração, pulso e sinais de hipotermia.

4.     Procedimentos de primeiros socorros realizados: Relate se a reanimação foi iniciada no local, quantos ciclos de compressões torácicas foram realizados, se o desfibrilador externo automático (DEA) foi utilizado e se a vítima respondeu ao tratamento.

Cuidados no Hospital e Recuperação da Vítima

Uma vez no hospital, a vítima de afogamento receberá cuidados avançados, que podem incluir uma série de procedimentos para tratar complicações respiratórias, cardíacas e neurológicas.

1.     Avaliação e monitoramento contínuo: A vítima será monitorada continuamente, com verificações frequentes de seus sinais vitais (frequência cardíaca, respiração e oxigenação). Os médicos realizarão exames para avaliar a condição pulmonar e a oxigenação do sangue, muitas vezes utilizando raios-X para verificar a presença de edema pulmonar.

2.     Ventilação mecânica: Se a vítima não estiver respirando adequadamente por conta própria, pode ser necessário o uso de ventilação mecânica para auxiliar na oxigenação e na remoção de dióxido de carbono dos pulmões.

3.     Tratamento de complicações respiratórias: Se houver entrada de água nos pulmões, o edema pulmonar será tratado com medicamentos e, em alguns casos, com ventilação assistida. Infecções pulmonares, como pneumonia, também podem se desenvolver após a aspiração de água, necessitando de antibióticos e cuidados específicos.

4.     Tratamento de hipotermia: Se a vítima sofreu hipotermia, o aquecimento gradual continuará no hospital. Técnicas como o uso de cobertores térmicos e fluidos intravenosos aquecidos podem ser aplicadas para restabelecer a temperatura corporal normal.

5.     Reabilitação neurológica: Em casos de parada cardíaca prolongada, a vítima pode sofrer danos cerebrais devido à falta de oxigênio. Nesses casos, a reabilitação neurológica pode ser necessária, incluindo acompanhamento médico para avaliar a função cognitiva e motora.

6.     Cuidados a longo prazo: Dependendo da gravidade do afogamento, a recuperação da vítima pode exigir um período prolongado de cuidados médicos. A fisioterapia respiratória pode ser indicada para fortalecer os pulmões e melhorar a capacidade respiratória. Em casos mais graves, pode ser necessário suporte psicológico e reabilitação física para ajudar na recuperação total.

Considerações Finais

O transporte rápido e seguro para o hospital, aliado aos cuidados médicos avançados, é essencial para a recuperação de uma vítima de afogamento. Informar

transporte rápido e seguro para o hospital, aliado aos cuidados médicos avançados, é essencial para a recuperação de uma vítima de afogamento. Informar adequadamente a equipe de emergência, estabilizar a vítima e garantir o tratamento adequado no hospital podem salvar vidas e minimizar os efeitos a longo prazo do incidente. Mesmo após um resgate bem-sucedido, o acompanhamento hospitalar é fundamental para tratar complicações que podem não ser imediatamente aparentes.

Voltar