Carpintaria

 CARPINTARIA

 

Projetos e Acabamento

Leitura de Projetos Simples

  

Interpretação, Medidas e Planejamento de Execução

A leitura de projetos é uma habilidade indispensável para o profissional da carpintaria que busca precisão, produtividade e eficiência na execução de suas tarefas. Projetos simples — como plantas, croquis e esboços técnicos — oferecem orientações fundamentais para a fabricação ou montagem de peças e estruturas de madeira. Saber interpretar essas representações gráficas é o primeiro passo para a execução segura e correta do trabalho, reduzindo erros, desperdícios e retrabalho. Este texto apresenta os fundamentos da leitura de projetos simples, abordando a interpretação de plantas e cortes, a identificação de medidas e o planejamento passo a passo da execução.

1. A Função dos Projetos na Carpintaria

Os projetos, mesmo em sua forma mais básica, funcionam como guias que orientam todas as etapas da execução de um serviço. Eles contêm informações sobre dimensões, formas, posicionamento, cortes e materiais. O projeto evita improvisações, garante padronização e facilita a comunicação entre os profissionais da obra.

Na carpintaria, os projetos podem assumir diferentes formas, como:

  • Croquis ou esboços à mão livre, utilizados para comunicações rápidas e informais;
  • Plantas baixas, que representam a vista superior de um ambiente ou peça;
  • Cortes e elevações, que mostram detalhes internos e verticais de estruturas;
  • Desenhos técnicos, com escala, cotas e legendas padronizadas.

Mesmo os projetos simples devem conter elementos essenciais como: título, escala, dimensões, representação dos materiais, tipo de acabamento e detalhes de montagem.

2. Interpretação de Plantas e Esboços

planta baixa é uma representação horizontal da peça ou ambiente, como se tivesse sido cortado na altura de aproximadamente 1,50 metro. Essa vista permite identificar o formato, as divisões, os encaixes e os elementos principais de uma estrutura.

Esboços e croquis, embora menos formais, são úteis para a comunicação inicial com clientes ou para a visualização rápida de uma ideia. Eles devem conter medidas básicas e proporções aproximadas.

Para interpretar corretamente esses documentos, o carpinteiro precisa compreender os símbolos gráficos, os tipos de linha (contínua, tracejada, grossa, fina) e as indicações de materiais. Também é importante saber ler a escala, que indica a proporção entre o desenho e a realidade (por exemplo, 1:20 significa que 1 cm no desenho representa 20 cm reais).

3. Identificação

Identificação de Medidas e Cortes

As medidas (ou cotas) estão sempre expressas em milímetros ou centímetros e aparecem como números posicionados entre linhas paralelas ou ao lado de setas. Existem dois tipos principais de medidas:

  • Cotas lineares, que indicam comprimento, largura e altura;
  • Cotas angulares, que indicam graus de inclinação ou cortes.

Além das cotas, o projeto pode apresentar linhas de corte, que indicam onde o objeto será "fatiado" para revelar seu interior. A partir dessa indicação, o projeto mostra um corte transversal ou longitudinal, permitindo visualizar encaixes, profundidades, sobreposições e reforços.

Exemplo prático: um projeto de banco de madeira pode conter:

  • Planta baixa do tampo, com medidas e posição dos furos;
  • Corte lateral mostrando a altura das pernas;
  • Detalhe do encaixe entre a travessa e os pés;
  • Lista de materiais com espessura das tábuas e tipo de parafuso.

Saber relacionar essas informações visuais com a execução real é o que torna o projeto uma ferramenta prática e funcional.

4. Planejamento de Execução Passo a Passo

Uma vez compreendido o projeto, o próximo passo é organizar a execução da tarefa de forma lógica e eficiente. O planejamento evita retrabalhos, antecipa dificuldades e permite melhor aproveitamento do tempo e dos materiais.

Etapas básicas do planejamento:

a) Análise do projeto
Compreender todas as vistas, medidas e indicações. Verificar se há dúvidas, incoerências ou falta de informações.

b) Lista de materiais
Elaborar uma lista com a quantidade, tipo e dimensões da madeira, parafusos, pregos, colas e demais insumos necessários. Verificar ferramentas exigidas.

c) Sequência de cortes e encaixes
Definir a ordem dos cortes com base na lógica construtiva e na economia de material. Cortes estruturais devem preceder os de acabamento.

d) Montagem preliminar (a seco)
Fazer uma montagem sem fixação definitiva para verificar se os encaixes e medidas estão corretos.

e) Fixação e acabamento
Somente após a conferência da montagem, iniciar a colagem, parafusamento ou pregação. O acabamento (lixamento, pintura, verniz) é a última etapa.

f) Conferência final
Verificar se as medidas finais, a estabilidade e a aparência estão de acordo com o projeto inicial.

Este planejamento pode ser escrito ou mental, dependendo da complexidade do projeto. Em casos mais elaborados, é recomendável desenhar um cronograma de execução e registrar o consumo de materiais para controle de custos.

Considerações Finais

A leitura de projetos simples é uma competência essencial

na carpintaria moderna. Saber interpretar plantas, cortes e esboços permite ao carpinteiro executar com precisão, reduzindo falhas, economizando materiais e ganhando produtividade. A capacidade de planejar a execução a partir do projeto demonstra profissionalismo e agrega valor ao trabalho. Mesmo os projetos mais simples, quando bem compreendidos, podem resultar em peças de alta qualidade e durabilidade.

Referências Bibliográficas

  • CARRASCO, Sônia Regina. Manual do Carpinteiro. São Paulo: Hemus, 2011.
  • SENAI. Curso Básico de Carpintaria. Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, 2020.
  • COUTINHO, L. C. G. Desenho Técnico para Construção Civil. São Paulo: LTC, 2017.
  • ABNT. NBR 10068: Representação de Projetos de Arquitetura. Associação Brasileira de Normas Técnicas, 2021.
  • SILVA, Flávio. Interpretação de Projetos para Construção e Reforma. São Paulo: Érica, 2015.

 

Acabamentos em Madeira
Lixamento, Nivelamento e Aplicação de Verniz, Tinta e Seladora

 

O acabamento é a etapa final da carpintaria e desempenha papel fundamental na estética, durabilidade e proteção das peças de madeira. Um bom acabamento realça a beleza natural da madeira, protege contra umidade, insetos e desgaste, além de proporcionar um toque profissional ao trabalho executado. Para alcançar esses objetivos, é necessário dominar técnicas de lixamento, nivelamento e a correta aplicação de produtos de acabamento, como vernizes, tintas e seladoras. Este texto apresenta os princípios essenciais para a realização de um acabamento eficiente e de qualidade em peças de madeira.

1. Lixamento e Nivelamento

O lixamento é a base de todo acabamento bem executado. Serve para corrigir imperfeições na superfície, remover farpas, resíduos de cola ou marcas de ferramentas, além de preparar a madeira para receber produtos de acabamento.

a) Ferramentas e materiais utilizados
O lixamento pode ser feito manualmente ou com lixadeiras elétricas (orbital, roto-orbital ou de cinta). O material abrasivo mais comum é a lixa de papel, classificada por números que indicam sua granulação:

  • Lixas grossas (nº 40 a 60): para desbaste inicial;
  • Lixas médias (nº 80 a 120): para nivelamento e preparação;
  • Lixas finas (nº 180 a 320): para acabamento e entre demãos de verniz ou tinta.

b) Técnica correta de lixamento
Deve-se sempre lixar no sentido das fibras da madeira, para evitar marcas visíveis. Começa-se com uma lixa mais grossa e progride-se para as mais finas. O objetivo é deixar a superfície uniforme, suave ao toque e sem imperfeições visíveis. No

lixamento entre demãos, usa-se uma lixa fina ou uma palha de aço nº 0.

c) Nivelamento
O nivelamento visa uniformizar a superfície, removendo ondulações ou desníveis. É fundamental em peças planas, como tampos de mesa, portas e painéis. Pode ser feito com régua metálica, plaina manual ou com massa niveladora específica para madeira, aplicada antes do lixamento final.

Após o lixamento, a peça deve ser limpa com pano seco ou aspirador para remover o pó. A limpeza adequada é crucial para garantir a aderência dos produtos de acabamento.

2. Aplicação de Verniz

O verniz é um acabamento transparente ou semitransparente que protege a madeira e destaca seus veios e tonalidades naturais. É indicado para peças internas e externas, com versões à base de água, solvente ou óleo.

a) Tipos de verniz:

  • Verniz marítimo: ideal para áreas externas, resistente à umidade e raios solares.
  • Verniz à base de água: menos tóxico, de secagem rápida, indicado para ambientes internos.
  • Verniz PU (poliuretano): altamente resistente, usado em móveis e pisos.
  • Verniz tingidor: combina proteção com alteração da cor da madeira.

b) Técnica de aplicação
A superfície deve estar completamente seca, limpa e lixada. O verniz pode ser aplicado com pincel de cerdas macias, rolo de espuma ou pistola. Recomenda-se aplicar duas a três demãos, com intervalo de secagem entre elas, e lixamento leve entre demãos para melhor aderência.

O verniz forma uma película protetora sobre a madeira. Deve-se evitar o excesso de produto para evitar bolhas, escorrimentos ou manchas.

3. Aplicação de Tinta

A pintura da madeira oferece maior liberdade estética, permitindo cores variadas e acabamentos foscos, acetinados ou brilhantes. A tinta também atua como proteção contra agentes externos.

a) Tipos de tinta para madeira:

  • Tinta esmalte sintético: comum em portas e móveis, oferece brilho e resistência.
  • Tinta acrílica: à base de água, menos tóxica e com secagem rápida.
  • Tinta spray: para pequenos objetos ou detalhes, permite acabamento uniforme e rápido.

b) Preparo da superfície
A madeira deve ser lixada e, se necessário, receber uma base seladora ou fundo preparador, que facilita a aderência da tinta e evita o excesso de absorção.

c) Aplicação
A tinta pode ser aplicada com pincel, rolo ou pistola. Deve-se aplicar de duas a três camadas finas, respeitando o tempo de secagem entre as demãos. O lixamento leve entre as camadas proporciona melhor acabamento.

d) Cuidados

  • Não pintar sob sol forte ou umidade elevada;
  • Misturar bem a tinta antes do uso;
  • Armazenar
  • o produto em local arejado e fora do alcance de calor excessivo.

4. Aplicação de Seladora

A seladora é um produto que prepara a madeira para o acabamento, reduzindo a absorção de verniz ou tinta e proporcionando um toque mais liso e uniforme. É especialmente importante em madeiras porosas como pinus, eucalipto e MDF.

a) Funções da seladora:

  • Fechar os poros da madeira;
  • Melhorar a aderência dos acabamentos;
  • Reduzir o consumo de verniz ou tinta;
  • Uniformizar o brilho.

b) Tipos:

  • Seladora à base de nitrocelulose: secagem rápida, usada em móveis internos.
  • Seladora à base de água: alternativa ecológica com baixa emissão de solventes.

c) Aplicação
A aplicação é semelhante à do verniz: com pincel, rolo ou pistola. Após a secagem da primeira demão (geralmente entre 2 a 4 horas), deve-se realizar um lixamento leve com lixa fina antes da segunda demão ou da aplicação do acabamento definitivo.

Considerações Finais

O acabamento em madeira exige paciência, técnica e atenção aos detalhes. Cada etapa — do lixamento à aplicação do verniz, tinta ou seladora — contribui para a durabilidade, beleza e valorização da peça. Conhecer os produtos, ferramentas e métodos adequados para cada tipo de madeira e aplicação é essencial para alcançar resultados profissionais. O acabamento não apenas embeleza, mas protege a madeira contra ações do tempo, insetos e desgaste mecânico.

 

Referências Bibliográficas

  • CARRASCO, Sônia Regina. Manual do Carpinteiro. São Paulo: Hemus, 2011.
  • CALDAS, Paulo Henrique. Construção em Madeira: Técnicas e Práticas. Rio de Janeiro: LTC, 2016.
  • SIQUEIRA, Ricardo de. Tecnologia da Madeira: Materiais e Aplicações. São Paulo: Blucher, 2018.
  • SENAI. Curso Básico de Acabamentos em Madeira. Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, 2020.
  • GOMES, Marcos. Pintura e Acabamento para Madeira: Guia Prático do Profissional. São Paulo: Érica, 2017.


Técnicas de Envelhecimento e Pátina na Madeira
Estética Rústica e Valorização do Acabamento

 

O acabamento em madeira vai além da proteção contra desgaste e intempéries. Em muitos contextos, busca-se conferir estilo, personalidade e autenticidade visual às peças. Entre as técnicas mais utilizadas com essa finalidade estão o envelhecimento artificial e a pátina, que proporcionam um aspecto rústico, vintage ou provençal. Essas técnicas têm origem na valorização estética do tempo sobre os materiais e são amplamente aplicadas na marcenaria, decoração de interiores, mobiliário e design de ambientes. Este texto apresenta os princípios, materiais e procedimentos

dessas técnicas, visando orientar sua correta aplicação na carpintaria.

1. Conceito e Finalidade do Envelhecimento e da Pátina

envelhecimento da madeira é uma técnica que simula o efeito do tempo sobre a peça, criando marcas de uso, desbotamentos, texturas e tonalidades irregulares. Já a pátina consiste em aplicar uma camada superficial de tinta ou pasta para destacar as fibras da madeira ou criar um aspecto decorativo esbranquiçado, metálico ou colorido.

Ambas as técnicas têm como objetivo:

  • Criar aparência antiga ou desgastada;
  • Valorizar a textura natural da madeira;
  • Conferir personalidade ao móvel ou estrutura;
  • Combinar o estilo da peça ao ambiente decorativo.

Essas técnicas são utilizadas em móveis residenciais, painéis decorativos, molduras, portas, objetos de arte e peças de artesanato. O resultado depende do tipo de madeira, da técnica aplicada, das cores utilizadas e do nível de desgaste simulado.

2. Materiais e Ferramentas Utilizadas

A aplicação correta de técnicas de envelhecimento e pátina requer o uso de materiais específicos e instrumentos adequados para criar texturas e efeitos controlados. Os principais incluem:

  • Lixas de diferentes granulações;
  • Escovas de aço ou de cerdas duras;
  • Pincéis, esponjas e panos de algodão;
  • Tintas acrílicas, látex ou à base de água;
  • Ceras coloridas e pastas metálicas;
  • Seladoras, vernizes e fundos preparadores;
  • Removedores e solventes (em algumas técnicas avançadas).

A escolha da ferramenta influencia o tipo de efeito visual alcançado. Pincéis duros e secos criam marcas irregulares, enquanto esponjas produzem efeitos mais difusos. A aplicação com panos pode gerar desgaste e mistura de cores mais suaves.

3. Técnicas de Envelhecimento da Madeira

O envelhecimento da madeira pode ser feito de forma manual, com ferramentas simples, ou com produtos específicos que oxidam ou tingem a madeira. Entre as técnicas mais comuns, destacam-se:

a) Escovamento da madeira
Utiliza escova de aço para remover parte das fibras mais macias da madeira, realçando os veios e criando uma textura rústica. Após o escovamento, a superfície pode ser tingida com betume da judeia ou corantes naturais, criando aspecto de desgaste.

b) Lixamento irregular (lixado criativo)
Consiste em desgastar propositalmente partes da peça, principalmente bordas, cantos e superfícies de maior contato, imitando o uso ao longo do tempo. É comum após a aplicação de uma camada de tinta ou verniz.

c) Tingimento com betume ou corante
betume da judeia (mistura de asfalto e solvente) é amplamente

usado para escurecer e dar aspecto envelhecido à madeira. Deve ser aplicado com pano e removido parcialmente, mantendo resíduos nas partes mais porosas ou rebaixadas.

d) Técnica do “queimado” (torrefação superficial)
Consiste em aplicar chama controlada na superfície da madeira (com maçarico ou soprador térmico), seguida de escovamento. Essa técnica realça o veio e proporciona coloração escura natural, sendo inspirada no método japonês "shou sugi ban".

4. Técnicas de Pátina

A pátina é uma técnica decorativa que simula desgaste superficial de tinta, revelando a madeira ou outra cor abaixo da camada superior. Pode ser feita de várias formas, com resultados que variam de acordo com a cor, espessura e textura aplicada.

a) Pátina clássica com vela
Após aplicar a primeira cor base (geralmente escura), esfrega-se vela de parafina nas bordas e áreas de maior contato. Em seguida, aplica-se a tinta superior. Ao secar, lixa-se levemente as áreas com cera, revelando a cor de fundo e criando um efeito desgastado.

b) Pátina lavada
Consiste em aplicar uma camada diluída de tinta (misturada com água), criando um efeito translúcido que permite a visualização dos veios. A aplicação é feita com pincel ou esponja, e o excesso pode ser removido com pano úmido.

c) Pátina provençal
Tradicional em móveis claros, utiliza cores suaves como branco, bege ou cinza. A técnica exige pintura de base, cera ou vela e, posteriormente, aplicação da tinta clara, seguida de lixamento parcial. É ideal para ambientes com estilo retrô ou campestre.

d) Pátina metálica ou dourada
Utiliza ceras ou pastas metálicas (ouro, cobre, prata), aplicadas com o dedo ou pano em alto-relevo da peça, proporcionando sofisticação. Pode ser combinada com fundo escuro para maior contraste.

5. Finalização e Proteção do Acabamento

Após a aplicação das técnicas de envelhecimento ou pátina, é essencial proteger a peça com produtos de acabamento para aumentar sua durabilidade e resistência ao uso. As opções incluem:

  • Verniz fosco ou acetinado, que protege sem interferir no efeito visual;
  • Cera incolor ou pigmentada, que acentua a textura e dá toque aveludado;
  • Seladora acrílica, que impermeabiliza sem alterar significativamente a aparência.

A escolha do acabamento depende do uso da peça. Móveis de uso frequente exigem proteção mais resistente, enquanto peças decorativas podem receber apenas cera ou verniz leve.

Considerações Finais

As técnicas de envelhecimento e pátina representam uma combinação entre habilidade técnica e expressão artística.

técnicas de envelhecimento e pátina representam uma combinação entre habilidade técnica e expressão artística. Quando aplicadas corretamente, conferem identidade visual, charme e originalidade às peças de madeira. Dominar essas técnicas exige conhecimento das propriedades da madeira, dos produtos e ferramentas, bem como sensibilidade estética para dosar os efeitos de desgaste, cor e textura. A personalização oferecida por essas técnicas é altamente valorizada em ambientes residenciais, comerciais e artísticos, tornando-se um diferencial importante no trabalho do carpinteiro e marceneiro contemporâneo.

 

Referências Bibliográficas

  • GOMES, Marcos. Pintura e Acabamento para Madeira: Guia Prático do Profissional. São Paulo: Érica, 2017.
  • CARRASCO, Sônia Regina. Manual do Carpinteiro. São Paulo: Hemus, 2011.
  • CALDAS, Paulo Henrique. Construção em Madeira: Técnicas e Práticas. Rio de Janeiro: LTC, 2016.
  • SENAI. Curso de Acabamento e Técnicas Decorativas em Madeira. Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, 2021.
  • MEDEIROS, Alice. Restauro e Pátina: Técnicas de Envelhecimento Aplicadas à Madeira. São Paulo: Ed. Artesanato Brasileiro, 2018.


Construção de Peça Simples em Madeira
Planejamento, Execução e Aplicação de Técnicas Básicas da Carpintaria

 

A construção de uma peça simples de madeira — como um banco, uma prateleira ou um caixote — é uma excelente forma de colocar em prática os fundamentos da carpintaria. Ao executar um projeto do início ao fim, o carpinteiro iniciante tem a oportunidade de aplicar técnicas de medição, corte, montagem, fixação e acabamento, além de desenvolver sua autonomia e capacidade de avaliação. Este texto apresenta um guia passo a passo para a realização de uma peça simples, enfatizando o planejamento, a execução correta e a revisão final com correções, quando necessárias.

1. Planejamento da Peça

Antes de iniciar qualquer corte ou montagem, é essencial dedicar tempo ao planejamento. O projeto pode ser representado por um desenho simples, contendo medidas, materiais necessários e ordem de montagem. Para este exemplo, consideremos a construção de uma prateleira de parede com três níveis.

a) Definição do projeto
A prateleira será composta por três tábuas horizontais (prateleiras) e dois suportes laterais. Pode ser fixada com parafusos diretamente na parede ou pendurada com suportes metálicos.

b) Medidas e esboço
Com base na função da peça (livros, objetos decorativos, ferramentas), define-se a largura, profundidade e altura total. No esboço, devem estar

indicadas as dimensões, posição dos parafusos e cortes.

c) Lista de materiais e ferramentas

  • Madeira (pinus, MDF ou compensado)
  • Parafusos, buchas e suportes de fixação
  • Lixa, verniz ou tinta
  • Trena, esquadro, lápis
  • Serra manual ou circular, furadeira, parafusadeira

d) Verificação de ambiente
Confirmar a altura disponível na parede, condições de fixação e distância de objetos próximos. Esse cuidado evita surpresas no momento da instalação.

2. Execução da Peça

Com o projeto definido e os materiais reunidos, inicia-se a execução em etapas bem organizadas.

a) Medição e marcação
Utiliza-se a trena para medir as tábuas, o esquadro para garantir ângulos retos e o lápis carpinteiro para marcações visíveis. Deve-se marcar tanto os cortes quanto os pontos de perfuração para parafusos.

b) Corte das peças
O corte pode ser feito com serra manual ou elétrica, respeitando o traço marcado. A serra circular oferece rapidez e precisão, especialmente em cortes retos. Após cada corte, deve-se conferir a medida e o esquadro da peça.

c) Lixamento e preparo da madeira
Antes da montagem, cada peça deve ser lixada, começando com lixa média e finalizando com lixa fina. Isso remove farpas e prepara a madeira para receber acabamento.

d) Montagem e fixação
As tábuas devem ser alinhadas e fixadas com parafusos, utilizando pré-furos para evitar rachaduras. Se a montagem for feita com cavilhas, é necessário alinhar os furos com precisão e utilizar cola apropriada.

A montagem pode ser feita em bancada, utilizando grampos e esquadros auxiliares. Recomenda-se sempre montar a seco antes da fixação definitiva, para verificar o encaixe das peças.

e) Acabamento
Após a montagem, aplica-se a seladora ou fundo preparador, seguido do verniz ou tinta escolhida. Entre as demãos, realiza-se um lixamento leve para garantir aderência e suavidade.

3. Aplicação das Técnicas Aprendidas

A construção de uma peça simples envolve a aplicação integrada de todas as técnicas aprendidas nas etapas iniciais do curso:

  • Medição e marcação: garante cortes precisos e montagem sem folgas;
  • Corte manual ou elétrico: assegura peças bem ajustadas;
  • Montagem e fixação: com parafusos, cavilhas ou colas, conforme o projeto;
  • Acabamento: protege a madeira e valoriza sua estética.

Além da técnica, o aluno desenvolve a organização do trabalho, o uso consciente dos materiais e a avaliação crítica do próprio desempenho. Mesmo projetos simples podem oferecer grande aprendizado quando executados com atenção e compromisso.

4. Avaliação e Correções

Após a finalização da

peça, deve-se realizar uma avaliação cuidadosa, observando os seguintes pontos:

a) Verificação estrutural

  • A peça está firme e sem folgas?
  • Os parafusos ou encaixes estão bem posicionados?
  • Os suportes estão corretamente instalados?

b) Conferência de medidas

  • As dimensões estão de acordo com o projeto inicial?
  • A peça está nivelada e alinhada?

c) Qualidade do acabamento

  • A superfície está lisa e sem falhas?
  • A pintura ou verniz foi aplicado uniformemente?
  • Há necessidade de retoques ou nova demão?

d) Correções possíveis
Caso sejam detectados erros, é importante não descartá-los, mas buscar soluções viáveis:

  • Lixar novamente áreas com imperfeições;
  • Reapertar parafusos ou substituir peças mal cortadas;
  • Aplicar massa para madeira em pequenos buracos ou fissuras;
  • Realizar nova pintura em áreas com cobertura irregular.

Esse processo de avaliação e correção desenvolve o olhar crítico e a capacidade de aperfeiçoamento contínuo — marcas de um bom profissional.

Considerações Finais

A construção de uma peça simples em madeira representa um exercício completo de carpintaria. Desde o planejamento até a finalização, o projeto integra conhecimentos técnicos, criatividade e precisão. É por meio dessa prática que o carpinteiro iniciante desenvolve habilidades essenciais para projetos mais complexos. Além de permitir o domínio das ferramentas e técnicas básicas, a atividade reforça valores como paciência, cuidado com os detalhes e responsabilidade pelo resultado final.

 

Referências Bibliográficas

  • CARRASCO, Sônia Regina. Manual do Carpinteiro. São Paulo: Hemus, 2011.
  • CALDAS, Paulo Henrique. Construção em Madeira: Técnicas e Práticas. Rio de Janeiro: LTC, 2016.
  • SENAI. Curso Básico de Carpintaria. Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, 2020.
  • SIQUEIRA, Ricardo de. Tecnologia da Madeira: Materiais e Aplicações. São Paulo: Blucher, 2018.
  • PINTO, Carlos Eduardo. Oficina de Carpintaria: Princípios, Ferramentas e Técnicas. São Paulo: Editora Érica, 2019.
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