CONCEITOS BÁSICOS DE ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS NA ENFERMAGEM
Tipos de Medicamentos e Formas Farmacêuticas
Classificação dos Medicamentos
A classificação dos medicamentos é essencial para garantir seu uso seguro e eficaz. Ela permite que profissionais de saúde e pacientes compreendam as características dos fármacos, suas formas de prescrição e a necessidade de controle sanitário. No Brasil, essa classificação é regulamentada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), que estabelece critérios para a comercialização, prescrição e controle dos medicamentos (ANVISA, 2022).
1. Medicamentos Controlados e de Venda Livre
Os medicamentos podem ser classificados de acordo com a necessidade de prescrição médica e o nível de controle exigido.
1.1 Medicamentos de Venda Livre (MIP – Medicamentos Isentos de Prescrição)
Os Medicamentos Isentos de Prescrição (MIP) são aqueles que podem ser adquiridos sem receita médica, pois possuem um perfil de segurança bem estabelecido, baixo potencial de risco e são indicados para o tratamento de sintomas menores e autolimitados, como dor de cabeça, febre e azia (SILVA et al., 2021).
Exemplos de MIPs incluem:
1.2 Medicamentos Controlados
Os medicamentos controlados possuem substâncias que apresentam risco de dependência, abuso ou efeitos adversos graves, sendo regulamentados pela Portaria SVS/MS nº 344/1998, que estabelece regras para sua prescrição e comercialização (ANVISA, 2022).
São subdivididos em categorias específicas:
A dispensação de medicamentos controlados exige receita especial, que pode ser azul, amarela ou branca, dependendo do tipo de substância controlada.
2. Tipos de Prescrição Médica
A prescrição médica é a forma legal pela qual um profissional de saúde autoriza o uso de um medicamento. No Brasil, existem diferentes tipos de prescrição, de acordo com o medicamento e seu nível de controle:
2.1 Receita Simples
2.2 Receita de Controle Especial
2.3 Receita de Controle Especial em Notificação Amarela (Narcóticos)
2.4 Receita Azul (Psicotrópicos)
2.5 Receita Branca (Antimicrobianos e Medicamentos de Uso Continuado)
Cada tipo de prescrição tem um período de validade e pode ter restrições quanto à quantidade de medicamento dispensado.
3. Medicamentos Genéricos, Similares e de Referência
Outra classificação importante dos medicamentos se baseia na sua origem e equivalência terapêutica.
3.1 Medicamentos de Referência
3.2 Medicamentos Genéricos
O Programa de Medicamentos Genéricos no Brasil foi instituído pela Lei nº 9.787/1999, permitindo maior acessibilidade a tratamentos de qualidade com preços reduzidos (BRASIL, 1999).
3.3 Medicamentos Similares
A substituição de medicamentos de referência por genéricos ou similares pode ser feita na farmácia, desde que o farmacêutico esteja
autorizado e o medicamento seja considerado intercambiável pela ANVISA.
Conclusão
A classificação dos medicamentos é essencial para garantir seu uso seguro e adequado. Os medicamentos podem ser de venda livre ou controlados, dependendo dos riscos associados ao seu uso. Além disso, a prescrição médica varia conforme a categoria do medicamento, sendo fundamental que profissionais de saúde sigam as normativas estabelecidas. A diferenciação entre medicamentos de referência, genéricos e similares permite que os pacientes tenham acesso a tratamentos eficazes e acessíveis, garantindo a segurança na administração dos fármacos.
Referências Bibliográficas
ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Portaria SVS/MS nº 344/1998. Dispõe sobre o controle e a fiscalização de substâncias e medicamentos sujeitos a controle especial. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa. Acesso em: 2022.
BRASIL. Lei nº 9.787, de 10 de fevereiro de 1999. Altera a Lei nº 6.360/76 e dispõe sobre o medicamento genérico. Disponível em: https://www.planalto.gov.br.
SILVA, M. R.; LOPES, A. T.; FERREIRA, C. B. Classificação e Segurança no Uso de Medicamentos. 2ª ed. São Paulo: Editora Saúde, 2021.
Formas Farmacêuticas e Vias de Administração
A administração de medicamentos é um processo essencial na prática clínica e influencia diretamente a eficácia terapêutica e a segurança do paciente. Os fármacos podem ser formulados em diferentes formas farmacêuticas e administrados por diversas vias, dependendo de fatores como a natureza do medicamento, a condição do paciente e o efeito desejado. Esses aspectos são regulamentados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) para garantir a qualidade, segurança e eficácia dos medicamentos (ANVISA, 2022).
1. Formas Farmacêuticas
As formas farmacêuticas referem-se às apresentações físicas dos medicamentos, que podem ser classificadas em sólidas, líquidas, semissólidas e gasosas. Cada tipo possui características específicas que determinam sua absorção, biodisponibilidade e estabilidade.
1.1 Formas Sólidas
Os medicamentos em forma sólida são os mais utilizados devido à sua estabilidade química, facilidade de transporte e administração precisa. São formulados para serem ingeridos, mastigados ou dissolvidos antes da absorção pelo organismo (BRUNTON et al., 2021).
1.2 Formas Líquidas
As formas líquidas são utilizadas principalmente em populações pediátricas, geriátricas e pacientes com dificuldades de deglutição. Apresentam absorção mais rápida em comparação às formas sólidas (GOMES et al., 2020).
1.3 Formas Semissólidas
São utilizadas principalmente para aplicação tópica, permitindo a ação local do medicamento ou absorção sistêmica.
1.4 Formas Gasosas
Os medicamentos gasosos são administrados por inalação e atingem rapidamente a circulação sanguínea através dos pulmões, sendo indicados para emergências médicas ou condições respiratórias.
2. Vias de Administração de Medicamentos
A via de administração refere-se ao caminho pelo qual o medicamento entra no organismo. A escolha da via depende do efeito desejado, da biodisponibilidade do fármaco e das condições do paciente.
2.1 Via Oral (Enteral)
2.2 Via Parenteral
Refere-se à administração do medicamento por injeção ou infusão, contornando o trato gastrointestinal.
2.3 Via Tópica
Aplicação do
medicamento diretamente na pele ou mucosas. Pode ter ação local (pomadas e cremes) ou sistêmica (adesivos transdérmicos, como os de nicotina).
2.4 Via Respiratória (Inalatória)
2.5 Outras Vias
3. Fatores que Influenciam a Escolha da Via de Administração
A escolha da via de administração depende de fatores como:
Conclusão
A escolha da forma farmacêutica e da via de administração é um aspecto essencial na terapia medicamentosa. Cada forma farmacêutica tem vantagens e desvantagens, impactando a absorção, biodisponibilidade e adesão ao tratamento. A via de administração deve ser selecionada com base nas características do medicamento, nas necessidades clínicas do paciente e nos objetivos terapêuticos.
Referências Bibliográficas
ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Formas farmacêuticas e vias de administração de medicamentos. Brasília, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa.
BRUNTON, L. L.; KNOLLMANN, B. C.; HILAL-DANDAN, R. Goodman & Gilman’s: As Bases Farmacológicas da Terapêutica. 14ª ed. Rio de Janeiro: McGraw-Hill, 2021.
GOMES, A. B.; SANTOS, C. R.; MARTINS, P. L. Farmacologia Aplicada à Enfermagem: Conceitos e Práticas. Belo Horizonte: Editora Médica, 2020.
KATZUNG, B. G. Farmacologia Básica e Clínica. 15ª ed. Porto Alegre: AMGH, 2022.
Medicamentos de Alta Vigilância e Cuidados Especiais
A administração de medicamentos é um dos processos mais críticos na assistência à saúde, sendo essencial garantir segurança e precisão para
minimizar erros. Alguns medicamentos apresentam um risco aumentado de causar danos graves ou fatais se administrados de maneira incorreta. Esses medicamentos são chamados de Medicamentos de Alta Vigilância e exigem precauções rigorosas para sua administração segura (INSTITUTE FOR SAFE MEDICATION PRACTICES - ISMP, 2021).
1. O Que São Medicamentos de Alta Vigilância?
Medicamentos de Alta Vigilância são aqueles que possuem um alto potencial de causar eventos adversos graves quando administrados incorretamente. Esses medicamentos não necessariamente apresentam uma alta incidência de erros, mas as consequências de um erro podem ser severas (WORLD HEALTH ORGANIZATION - WHO, 2019).
A lista de medicamentos de alta vigilância pode variar entre instituições de saúde, mas geralmente inclui classes como:
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e o Institute for Safe Medication Practices (ISMP) divulgam listas periódicas de medicamentos de alta vigilância, recomendando medidas para reduzir erros associados a esses fármacos (ANVISA, 2022).
2. Precauções para Evitar Erros na Administração
A administração segura de medicamentos de alta vigilância requer protocolos rigorosos e medidas de segurança reforçadas para evitar erros. Algumas das principais precauções incluem:
2.1 Uso de Identificação e Rotulagem Adequada
2.2 Treinamento e Capacitação Contínua
2.3 Aplicação dos “9 Certos” da Administração de Medicamentos
Antes da administração, o profissional de saúde deve seguir os "9 Certos" da administração medicamentosa para evitar falhas (FERREIRA et al., 2020):
1. Paciente certo – confirmar a identidade do paciente com nome completo e data de nascimento.
2. Medicamento certo – verificar nome e concentração do fármaco.
3. Dose certa – conferir a prescrição e calcular corretamente a dosagem.
4. Via certa – confirmar se a via prescrita está correta (oral, IV, IM, SC etc.).
5. Horário certo – administrar no tempo adequado.
6. Registro certo – documentar a administração corretamente.
7. Abordagem certa – garantir que o paciente esteja ciente do procedimento.
8. Resposta certa – monitorar reações adversas.
9. Razão certa – verificar se o medicamento é realmente necessário.
2.4 Armazenamento Seguro e Separado
3. Procedimentos de Dupla Checagem
A dupla checagem (double-check) é um procedimento essencial para minimizar erros na administração de medicamentos de alta vigilância. Esse protocolo exige que dois profissionais de saúde revisem independentemente a prescrição, o preparo e a administração do medicamento antes da aplicação ao paciente (ISMP, 2021).
3.1 Como Funciona a Dupla Checagem?
1. Verificação Independente:
o Um profissional realiza a primeira verificação, conferindo prescrição, cálculo da dose e preparo do medicamento.
o Um segundo profissional repete todo o processo independentemente, sem ser influenciado pelo primeiro.
2. Revisão do Paciente:
o Ambos confirmam a identidade do paciente antes da administração.
3. Registro Formal:
o Deve-se documentar a realização da dupla checagem no prontuário do paciente.
3.2 Medicamentos que Exigem Dupla Checagem
Estudos demonstram que a dupla checagem reduz significativamente os erros de medicação, aumentando a segurança do paciente (FERREIRA et al., 2020).
Conclusão
Os Medicamentos de Alta Vigilância exigem precauções rigorosas devido ao alto risco de
eventos adversos graves. A implementação de protocolos como etiquetagem adequada, treinamentos contínuos, aplicação dos “9 Certos” e a dupla checagem são estratégias essenciais para evitar erros. As instituições de saúde devem adotar medidas preventivas eficazes para garantir a administração segura desses medicamentos, protegendo tanto os profissionais quanto os pacientes.
Referências Bibliográficas
ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Programa Nacional de Segurança do Paciente: Medicamentos de Alta Vigilância. Brasília, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa.
FERREIRA, T. R.; LOPES, J. S.; MORAES, G. P. Protocolos Clínicos e Segurança na Administração de Medicamentos. 2ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2020.
INSTITUTE FOR SAFE MEDICATION PRACTICES (ISMP). High-Alert Medications in Acute Care Settings. 2021. Disponível em: https://www.ismp.org.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Medication Safety in High-Alert Medications. Genebra, 2019. Disponível em: https://www.who.int.