PRINCÍPIOS DA LEITURA E INTERPRETAÇÃO
DE DESENHO TÉCNICO MECÂNICO
 
Tolerâncias, Ajustes e Dimensionamento
Dimensionamento e Cotagem
Regras para Cotagem no Desenho Técnico
A cotagem no desenho técnico é o processo de fornecer dimensões precisas de uma peça ou componente, permitindo que ela seja fabricada de acordo com as especificações exigidas. Para que as cotas sejam claras e compreensíveis, elas devem seguir normas e regras padronizadas, garantindo que a leitura e a interpretação sejam uniformes para qualquer profissional. As principais regras para cotagem no desenho técnico incluem:
1.     Clareza e Precisão:
o    As cotas devem ser dispostas de maneira clara, sem sobreposição com outras linhas ou partes do desenho, para evitar confusão. As dimensões devem ser precisas e representadas em milímetros, a menos que outro sistema de medida seja especificado.
2.     Evitar Redundância:
o Uma regra importante na cotagem é evitar a duplicação de dimensões. Cada dimensão deve ser especificada apenas uma vez, de forma que não haja cotas repetidas em diferentes vistas do desenho. Isso ajuda a evitar discrepâncias durante a leitura.
3.     Posicionamento das Cotas:
o    As cotas devem ser colocadas fora das vistas principais do desenho, evitando passar por cima das linhas da peça. Elas são geralmente colocadas acima ou ao lado das vistas e indicadas com linhas de chamada que conectam as cotas aos pontos de medição.
4.     Indicar Dimensões Essenciais:
o    Somente as dimensões necessárias para a fabricação, montagem ou inspeção da peça devem ser incluídas. Informações excessivas ou desnecessárias podem sobrecarregar o desenho e causar confusão.
5.     Simbolização Padrão:
o    Deve-se utilizar símbolos padronizados para indicar características especiais, como diâmetros, raios, angulações, e tolerâncias, conforme as normas aplicáveis (como ISO, ASME ou ABNT).
Tipos de Cotas e Posições
As cotas em um desenho técnico podem ser divididas em diferentes tipos, dependendo da natureza da dimensão que estão representando:
1.     Cotas Lineares:
o    Usadas para indicar distâncias horizontais ou verticais entre dois pontos. São representadas por uma linha de cota com as dimensões indicadas no centro.
o Exemplo: O comprimento ou a largura de uma peça retangular.
2.     Cotas de Diâmetro:
o    Utilizadas para dimensionar elementos circulares, como furos, eixos ou cilindros. O símbolo de diâmetro (Ø) precede a medida para indicar que a dimensão é referente a uma seção circular.
o Exemplo:
O diâmetro de um furo em uma peça.
3.     Cotas de Raio:
o    Usadas para representar arcos ou curvas. As cotas de raio indicam a distância do centro até a borda do arco e são precedidas pela letra "R".
o    Exemplo: O raio de um arco em uma peça curva.
4.     Cotas Angulares:
o    Utilizadas para especificar ângulos entre duas linhas ou superfícies. São representadas com um arco de cota e o valor do ângulo indicado no centro.
o    Exemplo: O ângulo entre duas superfícies inclinadas de uma peça cônica.
5.     Cotas de Espessura:
o    Indicadas para determinar a espessura de chapas ou componentes finos. Geralmente, são colocadas diretamente no componente, indicando a espessura mínima ou máxima permitida.
6.     Cotas de Profundidade:
o    Usadas para especificar a profundidade de furos ou rebaixos. Um símbolo específico indica que a dimensão se refere à profundidade do elemento.
o Exemplo: A profundidade de um furo que precisa ser perfurado parcialmente.
Importância do Dimensionamento Correto para a Fabricação de Peças
O dimensionamento correto é um aspecto crítico do desenho técnico, pois garante que a peça ou componente seja fabricado de acordo com as especificações exigidas. O processo de cotagem e dimensionamento influencia diretamente a qualidade, o desempenho e a funcionalidade da peça. A seguir, destacamos a importância do dimensionamento adequado para a fabricação:
1.     Precisão na Produção:
o    Dimensões corretas garantem que as peças sejam fabricadas com precisão, minimizando erros durante o processo de usinagem, moldagem ou montagem. Qualquer variação nas dimensões pode afetar a qualidade final do produto e até mesmo torná-lo inutilizável.
2.     Facilidade de Montagem:
o    O dimensionamento adequado facilita a montagem correta dos componentes em um sistema maior. Peças com dimensões precisas garantem um encaixe perfeito, evitando problemas como folgas excessivas ou interferências que poderiam comprometer o funcionamento do conjunto.
3.     Redução de Custos e Desperdícios:
o    Uma cotagem correta desde o início do projeto evita a necessidade de retrabalhos, desperdício de material e tempo. Quando as dimensões estão corretas, o processo de fabricação flui com mais eficiência, reduzindo o número de peças defeituosas e o desperdício de insumos.
4.     Garantia de Funcionalidade:
o Para que uma peça cumpra sua função corretamente, ela deve ter as dimensões exatas necessárias. O dimensionamento adequado assegura que a peça funcionará conforme planejado,
suportando cargas, tensões e outros fatores mecânicos sem falhas.
5.     Comunicação Clara:
o    Um desenho técnico com dimensionamento adequado serve como uma linguagem universal entre projetistas, engenheiros e fabricantes. Ele garante que todos os envolvidos na produção entendam claramente as especificações, evitando mal-entendidos que possam comprometer o produto final.
Portanto, o processo de cotagem e dimensionamento no desenho técnico é essencial para garantir a precisão, a qualidade e a funcionalidade das peças e componentes. A aplicação das regras corretas de cotagem e a utilização dos tipos adequados de cotas permitem que o desenho seja uma ferramenta eficaz para a fabricação industrial, facilitando a comunicação e o entendimento entre os diferentes profissionais envolvidos no processo.
Tolerâncias Dimensionais
Definição de Tolerância e Sua Importância no Desenho Técnico
A tolerância dimensional é a variação permitida nas dimensões de uma peça ou componente em relação às suas especificações nominais no desenho técnico. Nenhum processo de fabricação é perfeito, e pequenas variações podem ocorrer devido a diversos fatores, como o desgaste de ferramentas, variações na temperatura e limitações dos processos de usinagem. Portanto, as tolerâncias definem os limites aceitáveis para essas variações, garantindo que, mesmo com essas imperfeições, a peça ainda funcione corretamente.
A tolerância é expressa como uma faixa de valores (positivos e negativos) ao redor da dimensão nominal. Sua importância no desenho técnico reside no fato de que ela assegura que as peças possam ser fabricadas com precisão suficiente para garantir sua intercambiabilidade, montagem e desempenho, sem exigir uma precisão excessiva, o que poderia aumentar os custos de fabricação.
Exemplo de como uma tolerância é expressa:
Tipos de Tolerâncias
Existem diferentes tipos de tolerâncias aplicadas em desenhos técnicos, cada uma com funções e finalidades específicas. A seguir estão os principais tipos de tolerâncias utilizadas:
1.     Tolerância Geral:
o    Definição: A tolerância geral refere-se a uma faixa de variação que se aplica a todas as dimensões de um desenho técnico, caso tolerâncias específicas não sejam indicadas. Ela é utilizada para simplificar o desenho e evitar a repetição de especificações.
o
Aplicação: É frequentemente usada para peças de menor criticidade, onde pequenas variações dimensionais não afetam o funcionamento do produto.
o    Exemplo: Um desenho técnico pode conter uma nota indicando que "todas as dimensões sem tolerâncias especificadas têm uma tolerância de ±0,1 mm".
2.     Tolerância Geométrica:
o    Definição: As tolerâncias geométricas se referem ao controle da forma, orientação, posição e perfil de uma peça. Elas garantem que não apenas as dimensões estejam dentro da faixa permitida, mas também que a forma e a relação entre os diferentes elementos da peça estejam dentro dos limites aceitáveis.
o    Aplicação: Usada em peças com requisitos de alta precisão de montagem, garantindo que, por exemplo, um furo esteja perfeitamente alinhado com outro, ou que uma superfície seja paralela ou perpendicular a outra.
o Exemplo: Em um furo que precisa ser alinhado com precisão a outro componente, pode ser aplicada uma tolerância geométrica de concentricidade, garantindo que o centro do furo esteja dentro de um determinado desvio da linha central do eixo.
3.     Tolerância de Forma:
o    Definição: A tolerância de forma controla o formato de elementos individuais de uma peça, sem considerar a relação com outros elementos. Ela pode ser aplicada, por exemplo, para garantir que uma superfície seja reta, plana, cilíndrica ou tenha uma curvatura específica dentro de um limite de variação.
o    Aplicação: Utilizada para assegurar a qualidade de superfícies e formas, que são essenciais para o desempenho de componentes mecânicos, como peças que precisam se mover com baixo atrito ou que precisam se encaixar perfeitamente em outras partes.
o    Exemplo: A tolerância de cilindricidade pode ser aplicada a um eixo para garantir que sua superfície externa seja perfeitamente cilíndrica dentro de uma faixa específica de variação, garantindo que ele gire corretamente sem vibrações ou folgas.
Exemplos Práticos de Aplicação de Tolerâncias
As tolerâncias são essenciais para garantir que as peças sejam fabricadas com a precisão necessária, sem exigir processos excessivamente caros ou impossíveis de atingir. A seguir, alguns exemplos práticos de como as tolerâncias são aplicadas em peças mecânicas:
1.     Ajustes em Eixos e Furos:
o Em montagens mecânicas que envolvem a combinação de eixos e furos, as tolerâncias são fundamentais para garantir o tipo de ajuste desejado, seja um ajuste justo, deslizante ou com interferência. Por exemplo, em uma montagem com ajuste
deslizante, o furo pode ter uma tolerância de +0,05 mm (diâmetro ligeiramente maior) e o eixo uma tolerância de -0,05 mm (diâmetro ligeiramente menor), permitindo que o eixo se mova livremente dentro do furo.
2.     Concentricidade em Mancais de Rolamento:
o    Em componentes que envolvem mancais de rolamento, a tolerância geométrica de concentricidade é aplicada para garantir que o eixo e o furo no qual o rolamento será instalado estejam perfeitamente alinhados. Uma variação excessiva na concentricidade poderia causar desgaste prematuro do rolamento ou falhas no sistema.
3.     Planicidade de Superfícies de Apoio:
o    Em peças como placas de montagem ou superfícies de apoio, a tolerância de planicidade é aplicada para garantir que a superfície seja completamente plana. Isso é essencial quando a peça precisa se acoplar a outra sem deixar folgas ou pontos de apoio irregulares, o que poderia gerar instabilidade ou desgaste desigual.
4.     Paralelismo em Sistemas de Guias:
o    Em sistemas de guias lineares, como os utilizados em máquinas CNC, a tolerância de paralelismo é aplicada para garantir que as guias estejam perfeitamente alinhadas entre si. Isso assegura que o movimento da máquina seja suave e preciso, sem desvios ou variações que comprometam a qualidade do processo de usinagem.
Conclusão
As tolerâncias dimensionais são essenciais no desenho técnico para garantir a fabricação precisa e eficiente de peças e componentes mecânicos. Elas asseguram que, mesmo com variações inevitáveis nos processos de produção, as peças funcionem corretamente quando montadas. O uso adequado de tolerâncias – gerais, geométricas e de forma – permite que as peças sejam fabricadas com o nível de precisão necessário, sem exigir um custo elevado ou processos inviáveis.
Ajustes e Interferências
Conceitos de Ajuste Mecânico: Folga, Interferência e Transição
Os ajustes mecânicos referem-se à relação dimensional entre duas peças que serão montadas ou acopladas, como um eixo e um furo. Dependendo das dimensões e tolerâncias das peças, o ajuste resultante pode ser classificado em três categorias principais: folga, interferência e transição. Esses ajustes determinam como as peças se comportarão quando montadas, seja com movimento livre, com interferência ou algo intermediário.
1.     Ajuste com Folga:
o O ajuste com folga ocorre quando o diâmetro externo de uma peça (como um eixo) é menor que o diâmetro interno de outra peça (como um furo). Isso resulta em uma folga, ou seja, um espaço
livre entre as duas peças, permitindo que elas se movimentem uma em relação à outra.
o    Exemplo: Um ajuste com folga é comum em sistemas onde uma peça precisa girar ou deslizar livremente dentro de outra, como em mancais de rolamento ou engrenagens de máquinas.
o    Aplicação: Um eixo com diâmetro de 50 mm e um furo com diâmetro de 50,05 mm criariam uma folga de 0,05 mm, permitindo que o eixo gire sem resistência excessiva.
2.     Ajuste com Interferência:
o    O ajuste com interferência ocorre quando o diâmetro externo de uma peça é maior que o diâmetro interno da outra peça. Isso resulta em uma interferência, o que significa que as peças precisam ser forçadas ou pressionadas para se encaixar. Esse tipo de ajuste garante uma montagem fixa e permanente.
o    Exemplo: Ajustes com interferência são usados em montagens que exigem alta resistência e fixação permanente, como eixos em rodas de trens ou rolamentos em alojamentos.
o    Aplicação: Um eixo com diâmetro de 50,02 mm e um furo de 50 mm criariam uma interferência de 0,02 mm, necessitando de pressão ou aquecimento para que a montagem seja realizada.
3.     Ajuste de Transição:
o    O ajuste de transição é uma combinação de folga e interferência, onde a montagem pode resultar em folga ou interferência, dependendo das tolerâncias aplicadas. Esse tipo de ajuste é intermediário entre os outros dois e pode ser utilizado quando a montagem precisa ser feita de forma ajustável, sem fixação permanente, mas também sem movimento livre excessivo.
o    Exemplo: Esse ajuste é frequentemente usado em montagens que exigem encaixe firme, mas com possibilidade de desmontagem, como em peças que precisam ser substituídas ou ajustadas periodicamente.
o    Aplicação: Um eixo com diâmetro variando de 50,01 mm a 50 mm e um furo de 50 mm a 50,02 mm criaria uma faixa de tolerância onde poderia haver tanto folga mínima quanto interferência leve, dependendo das dimensões reais das peças.
Exemplos de Aplicação em Montagens Mecânicas
Os diferentes tipos de ajustes são amplamente utilizados em várias indústrias e aplicações mecânicas. Aqui estão alguns exemplos práticos de como esses ajustes são aplicados em montagens mecânicas:
1.     Rolamentos e Eixos (Ajuste com Folga):
o    Nos sistemas de rolamentos, um ajuste com folga entre o eixo e o furo do rolamento é necessário para permitir a rotação livre do eixo. A folga é ajustada de forma que haja espaço suficiente para a lubrificação, mas não tanto que cause vibração ou desgaste excessivo.
o
Aplicação: Um rolamento de 50 mm de diâmetro interno é montado em um eixo de 49,98 mm de diâmetro, criando uma pequena folga de 0,02 mm.
2.     Rodas de Trem e Eixos (Ajuste com Interferência):
o    Na montagem de rodas de trem em eixos, o ajuste com interferência é essencial para garantir que as rodas permaneçam fixas no eixo, mesmo sob altas tensões. O eixo é geralmente ligeiramente maior que o furo da roda, e as peças são montadas usando aquecimento para expandir o furo temporariamente.
o    Aplicação: Um eixo de 100 mm de diâmetro é montado em uma roda com furo de 99,95 mm, criando uma interferência de 0,05 mm que assegura uma conexão rígida e estável.
3.     Engrenagens e Veículos (Ajuste de Transição):
o    Em sistemas de engrenagens automotivas, um ajuste de transição é frequentemente usado entre o eixo de transmissão e a engrenagem para permitir um encaixe firme, porém com a possibilidade de remoção para manutenção. Esse ajuste garante que não haja folgas excessivas que possam causar ruído ou desgaste, mas também permite fácil desmontagem.
o    Aplicação: Um eixo com diâmetro de 30 mm e um furo de 29,99 mm resultariam em um encaixe firme que poderia ser desmontado com ferramentas adequadas.
Interpretação de Tabelas de Ajuste e Como Aplicá-las ao Desenho Técnico
Tabelas de ajuste são ferramentas importantes que ajudam os projetistas a selecionar as tolerâncias adequadas para eixos e furos, garantindo o tipo de ajuste desejado (folga, interferência ou transição). Essas tabelas fornecem faixas de dimensões para o eixo e o furo, baseadas em padrões internacionais, como os estabelecidos pela ISO (International Organization for Standardization) e a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).
Como Interpretar Tabelas de Ajuste:
1.     Sistema de Eixos e Furos:
o    As tabelas de ajuste normalmente seguem o sistema de ajuste com eixo base ou furo base. No sistema de furo base, o furo é mantido com uma dimensão fixa (geralmente de tolerância mais ampla), enquanto o eixo é ajustado para corresponder a diferentes tipos de ajustes (folga, interferência ou transição). No sistema de eixo base, ocorre o oposto.
2.     Designações de Tolerância:
o As tolerâncias são indicadas por letras e números, como H7/g6. A letra representa a variação da dimensão (H para furo, g para eixo) e o número representa o grau de precisão (quanto menor o número, mais apertada a tolerância). Um código como H7 indica que o furo segue um padrão com uma tolerância relativamente ampla, enquanto
g6 indica que o eixo é ajustado com uma maior precisão.
3.     Aplicação ao Desenho Técnico:
o    Ao aplicar uma tabela de ajuste a um desenho técnico, o projetista escolhe o tipo de ajuste desejado (por exemplo, ajuste com folga para eixos rotativos ou interferência para peças que precisam de fixação firme). Em seguida, são aplicados os códigos de tolerância apropriados ao eixo e ao furo. Essas tolerâncias são então indicadas no desenho técnico junto com as dimensões nominais.
o    Exemplo Prático: Se uma peça exige um ajuste de folga, o projetista pode especificar as dimensões de um furo com tolerância H7 e um eixo com tolerância g6, garantindo que haverá uma folga controlada entre as peças.
Conclusão
Os conceitos de ajustes mecânicos – folga, interferência e transição – são essenciais para garantir a montagem correta e funcional de peças mecânicas. A aplicação correta de ajustes em montagens assegura a precisão necessária para o desempenho da máquina, evita falhas e reduz os custos de fabricação. As tabelas de ajuste são ferramentas poderosas que ajudam a selecionar as tolerâncias apropriadas, garantindo a compatibilidade entre peças, e são fundamentais para a criação de desenhos técnicos precisos e funcionais.