Coleta de Sangue

COLETA DE SANGUE

Coleta Capilar e Situações Especiais

 

Técnica de Coleta Capilar

A coleta capilar é uma técnica utilizada para obtenção de pequenas amostras de sangue, principalmente em situações que exigem menor volume ou quando a coleta venosa é inviável ou desnecessária. Trata-se de um procedimento simples, porém que exige técnica correta, atenção aos critérios de biossegurança e conhecimento anatômico para garantir resultados confiáveis e a segurança do paciente.

Diferenças entre coleta capilar e venosa

A principal diferença entre a coleta capilar e a venosa está no tipo de vaso sanguíneo puncionado. Na coleta venosa, o sangue é obtido diretamente de uma veia, geralmente na fossa antecubital, permitindo a coleta de volumes maiores, com ampla utilização para exames laboratoriais diversos. Já a coleta capilar extrai sangue de pequenos vasos sanguíneos localizados logo abaixo da pele, como arteríolas, vênulas e capilares verdadeiros, por meio de uma punção superficial com lanceta estéril.

O sangue capilar possui uma composição mista (arterial, venosa e intersticial), o que pode gerar variações em relação ao sangue venoso, especialmente em exames sensíveis, como hemograma completo, glicemia e gasometria. Por esse motivo, essa técnica é preferencialmente indicada para testes rápidosmonitoramento de glicemiateste do pezinhotipagem sanguínea e verificações pontuais em neonatos e crianças pequenas.

A coleta capilar oferece vantagens como menor invasividade, menor risco de acidentes com perfurocortantes e maior aceitação entre pacientes pediátricos. No entanto, limitações incluem o pequeno volume obtido, possibilidade de hemólise, contaminação da amostra com tecido intersticial e maior sensibilidade a variações na técnica.

Locais apropriados (polpa digital, calcanhar)

A escolha do local de punção depende da faixa etária e das condições clínicas do paciente. Em adultos e crianças maiores, a coleta é preferencialmente realizada na polpa lateral do dedo anelar ou médio, evitando o polegar (mais sensível), o indicador (uso frequente) e o mínimo (menos vascularizado). A punção deve ser feita na parte lateral da polpa digital, pois essa região possui maior vascularização e menor risco de lesão óssea.

Em recém-nascidos e lactentes, o local mais indicado é o calcanhar, especificamente nas laterais da região plantar. A punção deve ser feita nas áreas externas da sola do pé, evitando a região central (próxima ao osso calcâneo) para prevenir lesões e necroses. O procedimento

deve ser feita nas áreas externas da sola do pé, evitando a região central (próxima ao osso calcâneo) para prevenir lesões e necroses. O procedimento deve respeitar limites de profundidade, geralmente controlados por lancetas automáticas, que reduzem o risco de perfuração excessiva.

Outros locais menos comuns, como o lóbulo da orelha, podem ser utilizados em situações específicas, embora sejam pouco adotados atualmente.

Materiais e cuidados

A coleta capilar requer materiais específicos e cuidados redobrados para evitar contaminações, hemólise e coágulos que comprometam a análise laboratorial. Os materiais básicos incluem:

• Lanceta estéril descartável (manual ou automática, com controle de profundidade)

• Algodão ou gaze estéril 

• Antisséptico (álcool 70%) 

• Tubo capilar, micro tubo ou fita para teste rápido 

• Luvas descartáveis 

• Curativo adesivo (opcional, após hemostasia)

  Recipiente para descarte de material perfurocortante 

Antes da punção, é fundamental higienizar as mãos do paciente, realizar antissepsia do local e permitir a secagem natural do álcool. O local não deve ser massageado com força ou “ordenhado”, pois isso pode provocar hemólise e diluição com fluido intersticial. Após a punção, a primeira gota de sangue deve ser desprezada, pois pode conter resíduos de tecido ou álcool.

O sangue deve ser colhido por capilaridade, sem compressão excessiva, e transferido imediatamente para o recipiente apropriado, respeitando os volumes indicados. Após a coleta, comprimir o local com gaze limpa até cessar o sangramento e, se necessário, aplicar um curativo.

A adoção rigorosa dessas medidas garante uma amostra de melhor qualidade e reduz riscos de contaminação, erro diagnóstico ou desconforto ao paciente.

Referências Bibliográficas

1. ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 302/2005. Regulamento técnico para funcionamento de laboratórios clínicos.

2. HARMON, A. M. Phlebotomy Essentials. 7th ed. Philadelphia: Wolters Kluwer, 2020.

3. LIMA, M. F. et al. Manual de coleta de materiais biológicos para exames laboratoriais. São Paulo: Sarvier, 2018.

4. BRASIL. Ministério da Saúde. Manual técnico para o teste do pezinho. Brasília: MS, 2016.

5. CLSI – Clinical and Laboratory Standards Institute. Procedures and Devices for the Collection of Diagnostic Capillary Blood Specimens; Approved Standard – Sixth Edition. CLSI document GP42-A6, 2008.


Coleta em Populações Especiais 

A coleta de sangue em populações especiais requer preparo técnico,

sensibilidade, adaptação de condutas e conhecimento das particularidades fisiológicas e comportamentais de cada grupo. O respeito às limitações e necessidades individuais é essencial para garantir segurança, conforto e amostras de qualidade, preservando a integridade física e emocional dos pacientes.

Crianças e recém-nascidos

A coleta de sangue em crianças representa um desafio técnico e emocional. Devido ao medo de agulhas, à imaturidade emocional e à dificuldade de comunicação, é comum que crianças apresentem resistência, choro e movimentos involuntários durante o procedimento. Nesses casos, é fundamental a presença de um acompanhante e uma abordagem acolhedora, com explicações claras e linguagem acessível à faixa etária.

A técnica deve ser rápida, precisa e segura, com preferência por agulhas e tubos de menor volume. Em lactentes e recém-nascidos, a coleta geralmente é capilar, feita por punção do calcanhar (teste do pezinho), respeitando a profundidade máxima de 2 mm para evitar lesões ósseas. Quando necessária a coleta venosa, deve-se optar por veias visíveis e acessíveis, como as do dorso da mão ou do antebraço, com contenção adequada e uso de dispositivos próprios para a faixa etária.

A coleta em crianças exige empatia, paciência e, quando possível, o uso de técnicas lúdicas ou distrações que minimizem o estresse. A presença de um profissional habilidoso e calmo influencia diretamente na aceitação da criança e no sucesso do procedimento.

Idosos e pacientes com acesso venoso difícil

Em idosos, a coleta venosa pode ser dificultada por alterações fisiológicas como pele fina, veias frágeis, colapsadas ou com trajetos sinuosos. Além disso, o uso prolongado de medicamentos, presença de doenças crônicas, desidratação e mobilidade reduzida podem complicar o acesso venoso e exigir mais cuidado na escolha do local de punção.

É fundamental realizar uma avaliação prévia das condições do paciente, buscar veias de maior calibre, e utilizar agulhas apropriadas, com menor risco de trauma. A aplicação do garrote deve ser breve e cuidadosa para evitar rompimento venoso. Quando a punção for difícil, pode-se optar por técnicas auxiliares como aquecimento local, uso de veias do dorso da mão ou, em casos específicos, coleta capilar.

A comunicação deve ser clara, respeitosa e adaptada a possíveis limitações sensoriais (como audição ou visão reduzidas). A postura do profissional deve ser sempre atenciosa e paciente, respeitando o tempo e as condições físicas do idoso.

Pacientes com

com necessidades especiais

Pacientes com necessidades especiais incluem indivíduos com deficiência física, mental, intelectual ou sensorial, além daqueles com transtornos do espectro autista (TEA), síndromes genéticas ou condições psiquiátricas que dificultem a comunicação, o entendimento ou a colaboração durante o procedimento.

O atendimento a esse grupo deve ser individualizado, com adaptações de ambiente, postura e linguagem, sempre respeitando a autonomia e dignidade do paciente. A presença de um cuidador ou familiar que conheça as preferências e comportamentos da pessoa é essencial para auxiliar na abordagem e garantir maior tranquilidade durante a coleta.

O profissional deve evitar estímulos sonoros ou visuais excessivos, permitir que o paciente se familiarize com o ambiente e explicar cada etapa do processo de forma simples, se possível utilizando recursos visuais ou táteis. A coleta pode ser feita com apoio de dispositivos que reduzam o tempo de punção, como sistemas a vácuo adaptados e agulhas de pequeno calibre.

Nos casos em que o paciente não compreende o procedimento ou apresenta agitação intensa, é importante manter a segurança do profissional e do paciente, utilizando contenção apenas com autorização legal e ética, e sempre como último recurso.

Referências Bibliográficas

1. ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 302/2005. Regulamento técnico para funcionamento de laboratórios clínicos.

2. HARMON, A. M. Phlebotomy Essentials. 7th ed. Philadelphia: Wolters Kluwer, 2020.

3. LIMA, M. F. et al. Manual de coleta de materiais biológicos para exames laboratoriais. São Paulo: Sarvier, 2018.

4. BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de Atendimento à Pessoa com Deficiência na Atenção Primária. Brasília, 2021.

5. BRASIL. Ministério da Saúde. Caderno de Atenção Básica: Saúde da Pessoa Idosa. Brasília, 2006.


Intercorrências na Coleta

Durante a coleta de sangue, mesmo quando realizada por profissionais capacitados e seguindo todos os protocolos técnicos e de biossegurança, podem ocorrer intercorrências. Esses eventos adversos, que incluem hematomas, colapsos venosos, síncopes e outras reações, devem ser prontamente reconhecidos, manejados com segurança e devidamente registrados, a fim de garantir a integridade do paciente, a qualidade do atendimento e a melhoria contínua dos processos laboratoriais.

Hematomas, colapsos venosos, síncopes

hematoma é a intercorrência mais comum e caracteriza-se pelo acúmulo de sangue nos tecidos subcutâneos,

geralmente causado por perfuração da parede do vaso, punção múltipla, retirada inadequada da agulha ou pressão insuficiente no local após a coleta. Pode provocar dor, inchaço e desconforto, além de impacto estético e emocional no paciente.

colapso venoso ocorre quando a veia se retrai ou colapsa durante a punção, interrompendo o fluxo sanguíneo. Isso pode estar relacionado à fragilidade da parede venosa (comum em idosos e crianças), desidratação, uso prolongado de garrote ou aspiração muito rápida com a seringa.

síncope (desmaio) é uma reação vasovagal caracterizada por queda súbita da pressão arterial e da frequência cardíaca, muitas vezes acompanhada de palidez, sudorese, tontura e perda momentânea da consciência. Pode ser desencadeada por dor, ansiedade, medo de agulhas ou jejum prolongado, sendo mais frequente em adolescentes e adultos jovens.

Como prevenir e como agir

A prevenção dessas intercorrências começa com uma avaliação cuidadosa do paciente, considerando seu histórico clínico, idade, estado emocional e experiências anteriores com coleta. A comunicação empática e o esclarecimento prévio do procedimento ajudam a reduzir a ansiedade e aumentam a colaboração do paciente.

Para evitar hematomas:

• Escolher veias de bom calibre e estáveis.

• Evitar punções múltiplas no mesmo local.

• Retirar o garrote antes da remoção da agulha.

• Aplicar compressão firme e prolongada após a punção.

Para prevenir colapsos venosos:

• Hidratar adequadamente o paciente antes da coleta, sempre que possível.

• Utilizar agulhas de menor calibre em veias frágeis.

• Evitar aspiração rápida e intensa com seringa.

• Reduzir o tempo de garroteamento.

No caso de síncope:

• Realizar a coleta com o paciente deitado ou inclinado, quando houver risco.

• Observar sinais precoces (sudorese, palidez, queixas de tontura).

• Interromper a coleta imediatamente se houver indícios de mal-estar.

• Deitar o paciente, elevar suas pernas e assegurar ventilação adequada.

• Monitorar os sinais vitais e, se necessário, encaminhar para avaliação médica.

Após a estabilização, é fundamental acolher o paciente, explicar o que ocorreu e garantir que ele se sinta seguro para futuras coletas. Reforçar a humanização no atendimento contribui para reduzir o trauma psicológico associado ao evento.

Registro e comunicação de eventos adversos

Todo evento adverso deve ser registrado de forma clara, objetiva e completa, tanto para fins legais quanto para o controle de qualidade da instituição. O registro deve conter data e hora do

ocorrido, identificação do paciente, descrição da intercorrência, medidas adotadas e, se aplicável, encaminhamentos realizados.

Além do registro, é importante que o profissional comunique o ocorrido à equipe responsável e, em casos mais relevantes, à coordenação ou responsável técnico do serviço. Esses dados devem alimentar os sistemas de notificação interna de eventos adversos, que ajudam na identificação de falhas recorrentes, na elaboração de protocolos de prevenção e na capacitação contínua da equipe.

A cultura de segurança no ambiente laboratorial exige transparência, acolhimento e compromisso com a melhoria contínua, transformando cada intercorrência em uma oportunidade de aprendizado e aprimoramento.

Referências Bibliográficas

1. ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 302/2005. Regulamento técnico para funcionamento de laboratórios clínicos.

2. HARMON, A. M. Phlebotomy Essentials. 7th ed. Philadelphia: Wolters Kluwer, 2020.

3. LIMA, M. F. et al. Manual de coleta de materiais biológicos para exames laboratoriais. São Paulo: Sarvier, 2018.

4. BRASIL. Ministério da Saúde. Guia de Segurança do Paciente em Serviços de Saúde: Incidentes Relacionados à Assistência à SaúdeBrasília, 2014.

5. WHO – World Health Organization. Guidelines on Drawing Blood: Best Practices in Phlebotomy. Geneva, 2010.

 

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