Coleta de Sangue

COLETA DE SANGUE

Preparo do Paciente e Técnica de Coleta Venosa

 

Identificação e Orientação ao Paciente

A fase pré-analítica é uma das mais críticas dentro do processo laboratorial, sendo responsável por grande parte dos erros que comprometem a qualidade dos exames. Dentro dessa etapa, a correta identificação e orientação do paciente destaca-se como uma ação fundamental para garantir a segurança, a confiabilidade dos resultados e o bom relacionamento entre profissional e paciente.

Importância da identificação correta

A identificação adequada do paciente é o primeiro passo antes da coleta de qualquer material biológico. Trata-se de uma etapa obrigatória e inegociável que visa evitar erros de amostragem, como troca de tubos, exames realizados em amostras erradas ou até mesmo diagnósticos equivocados. A RDC nº 302/2005 da ANVISA estabelece que todos os pacientes devem ser identificados por pelo menos dois dados, preferencialmente nome completo e data de nascimento, que devem ser confirmados verbalmente pelo paciente e comparados com a requisição médica.

Em pacientes inconscientes, crianças ou com dificuldades de comunicação, deve-se recorrer a acompanhantes, pulseiras de identificação ou registros institucionais. Após a confirmação da identidade, o tubo de coleta deve ser rotulado imediatamente após a coleta, à vista do paciente, nunca de forma antecipada ou posterior. O uso de etiquetas com código de barras e sistemas informatizados de rastreamento também contribuem para a segurança do processo.

Comunicação humanizada

A coleta de sangue é um momento de vulnerabilidade para muitos pacientes, especialmente aqueles com medo de agulhas, crianças ou pessoas em situação de fragilidade física e emocional. Por isso, a comunicação humanizada é uma habilidade essencial para os profissionais de saúde que realizam esse procedimento.

Uma abordagem respeitosa, acolhedora e empática ajuda a criar um ambiente de confiança, reduz a ansiedade e contribui para uma coleta mais tranquila e eficiente. O profissional deve se apresentar, explicar de forma clara o procedimento que será realizado, responder às dúvidas do paciente e respeitar o tempo e os limites individuais. O uso de uma linguagem simples e acessível é fundamental, evitando termos técnicos ou jargões que possam gerar confusão.

Ouvir ativamente o paciente, manter contato visual e demonstrar atenção às suas necessidades também faz parte dessa prática humanizada. Além de melhorar a experiência do paciente, a comunicação adequada

reduz o risco de recusa, evasão ou comportamentos adversos durante a coleta.

Jejum, medicações e outros fatores que afetam exames

Outro aspecto importante da orientação ao paciente refere-se às condições necessárias para a realização adequada de determinados exames, como jejum, uso de medicamentos e outros fatores que podem interferir nos resultados laboratoriais. O jejum, por exemplo, é exigido para vários exames bioquímicos, como glicemia, colesterol e triglicerídeos, pois a ingestão recente de alimentos pode alterar significativamente os valores obtidos.

A recomendação de jejum varia de acordo com o exame, sendo de 8 a 12 horas na maioria dos casos. No entanto, o jejum prolongado também pode ser prejudicial, especialmente em idosos, crianças e pacientes com condições clínicas específicas. Portanto, é essencial que o paciente seja orientado previamente sobre o tempo correto de jejum e a necessidade de hidratação com água.

Além do jejum, o uso de medicamentos também pode interferir nos resultados laboratoriais, seja por ação direta nos parâmetros analisados ou por reações com os reagentes utilizados. Dessa forma, o profissional deve verificar se o paciente está em uso de medicamentos e se existe alguma recomendação médica para suspensão temporária. Outros fatores, como atividade física intensa, consumo de álcool, tabagismo, estresse e ciclo menstrual, também devem ser considerados na avaliação pré-coleta.

Uma boa orientação evita coletas desnecessárias, reduz a necessidade de repetição de exames e melhora a qualidade das amostras. O profissional deve estar preparado para fornecer essas informações de forma clara e consistente, reforçando sempre a importância do cumprimento das orientações prévias.

Referências Bibliográficas

1. ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 302/2005. Dispõe sobre o regulamento técnico para funcionamento de laboratórios clínicos.

2. HARMON, A. M. Phlebotomy Essentials. 7th ed. Philadelphia: Wolters Kluwer, 2020.

3. LIMA, M. F. et al. Manual de coleta de materiais biológicos para exames laboratoriais. São Paulo: Sarvier, 2018.

4. BRASIL. Ministério da Saúde. HumanizaSUS: Política Nacional de Humanização. Brasília: Ministério da Saúde, 2013.

5. SILVA, R. P.; FERREIRA, C. V. Segurança do Paciente e Qualidade em Serviços de Saúde. São Paulo: Yendis, 2020.

 

Técnica Correta de Punção Venosa

A punção venosa é o procedimento mais comum na coleta de amostras sanguíneas para exames laboratoriais. A realização correta dessa

técnica é essencial para garantir a qualidade da amostra, o conforto do paciente e a segurança do profissional de saúde. A escolha adequada do local, o seguimento das etapas com técnica asséptica e o respeito à ordem correta dos tubos de coleta são fatores determinantes para o sucesso do procedimento.

Escolha do local de punção

A seleção do local ideal para a punção venosa é baseada em critérios anatômicos, facilidade de acesso e conforto para o paciente. A veia mediana do antebraço (fossa antecubital) é a mais comumente utilizada, pois está localizada superficialmente, tem bom calibre e é relativamente estável. Quando essa veia não está acessível, outras opções incluem a veia cefálica (lateral ao bíceps) e a veia basílica (medial), embora esta última esteja mais próxima de estruturas nervosas e artérias, devendo ser usada com cautela.

Em situações em que as veias do braço não são viáveis, é possível realizar a punção no dorso da mão, onde veias menores e mais móveis exigem técnica mais delicada. No entanto, essa região tende a ser mais sensível e suscetível a hematomas, sendo considerada uma alternativa secundária.

Locais como tornozelos, pés e veias próximas a áreas com infecção, flebite ou edema devem ser evitados, salvo sob orientação médica. A escolha do local deve sempre priorizar a segurança, a viabilidade da coleta e o bem-estar do paciente.

Etapas da punção venosa com segurança

A técnica de punção venosa deve seguir uma sequência lógica, padronizada e segura. As principais etapas são:

1. Higienização das mãos: deve ser realizada antes e depois do contato com o paciente, conforme preconiza a biossegurança.

2. Identificação do paciente: confirmar nome completo e data de nascimento, comparando com a requisição de exames.

3. Preparo dos materiais: organizar tubos, agulhas, garrote, álcool, algodão, luvas e coletor de resíduos perfurocortantes.

4. Colocação de luvas: é obrigatória para proteção do profissional e do paciente.

5. Aplicação do garrote: cerca de 7 a 10 cm acima do local de punção, por no máximo 1 minuto.

6. Antissepsia do local: com algodão embebido em álcool 70%, realizando movimentos circulares e deixando secar naturalmente.

7. Punção da veia: com agulha em ângulo de 15 a 30 graus, com entrada segura, evitando movimentos bruscos.

8. Coleta do sangue: conforme sistema utilizado (seringa ou sistema a vácuo).

9. Retirada da agulha e compressão: após o término da coleta, remover o garrote, retirar a agulha e comprimir o local com gaze seca.

10. Rotulagem

dos tubos: deve ser feita imediatamente após a coleta e na presença do paciente.

11. Descarte dos materiais: agulhas e seringas devem ser descartadas em coletores rígidos, sem reencapar.

12. Registro da coleta: eventuais dificuldades ou reações adversas devem ser registradas no prontuário ou sistema do laboratório.

A adoção dessas etapas reduz riscos de acidentes, previne infecções e assegura a qualidade da amostra.

Ordem de coleta dos tubos

ordem correta de coleta dos tubos é essencial para evitar contaminações cruzadas entre aditivos presentes nos frascos, o que pode comprometer seriamente os resultados dos exames. A ordem pode variar levemente conforme o fabricante, mas, de forma geral, segue a seguinte sequência:

1. Tubo para hemocultura (quando necessário) 

2. Tubo sem aditivo (vermelho) ou com ativador de coágulo (amarelo com gel)

3. Tubo com citrato de sódio (azul claro) – exames de coagulação

4. Tubo com heparina (verde) – exames bioquímicos

5. Tubo com EDTA (roxo/lilás) – hemograma

6. Tubo com fluoreto de sódio/EDTA (cinza) – glicemia e lactato

No caso da coleta por sistema a vácuo, a troca dos tubos ocorre com a agulha ainda posicionada na veia, e o vácuo interno do tubo puxa automaticamente o volume necessário de sangue. Já na coleta por seringa, após a punção e aspiração, o sangue deve ser transferido com cuidado para os tubos correspondentes, respeitando também a ordem de enchimento.

É importante sempre misturar suavemente os tubos com aditivos após a coleta (por inversão, e nunca agitação), para garantir homogeneidade e evitar formação de coágulos.

Referências Bibliográficas

1. ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 302/2005. Regulamento técnico para funcionamento de laboratórios clínicos.

2. HARMON, A. M. Phlebotomy Essentials. 7th ed. Philadelphia: Wolters Kluwer, 2020.

3. LIMA, M. F. et al. Manual de coleta de materiais biológicos para exames laboratoriais. São Paulo: Sarvier, 2018.

4. BRASIL. Ministério da Saúde. Guia de Biossegurança em Serviços de Saúde. 2006.

5. CLSI – Clinical and Laboratory Standards Institute. H3-A6: Procedures for the Collection of Diagnostic Blood Specimens by Venipuncture. 6th ed., 2007.


Pós-Coleta e Descarte de Materiais

A fase pós-coleta é tão importante quanto a coleta em si. Ela envolve cuidados imediatos com o paciente, garantia da integridade da amostra e descarte seguro dos materiais utilizados. Quando conduzida corretamente, essa etapa previne complicações locais, protege profissionais e

pacientes contra acidentes com materiais biológicos e reforça a qualidade dos serviços laboratoriais.

Cuidados após retirada da agulha

Logo após o término da coleta, o garrote deve ser removido, e a agulha retirada com delicadeza. É fundamental seguir essa ordem para evitar aumento da pressão venosa local e minimizar o risco de hematomas. O profissional deve utilizar um algodão ou gaze limpa para aplicar compressão imediata no local da punção, sem fricção, evitando lesões adicionais na pele e nos tecidos subcutâneos.

O paciente deve ser orientado a manter o braço estendido e pressionado por alguns minutos, preferencialmente sem dobrar o cotovelo, o que é um erro comum que aumenta o risco de hematoma. O contato com o sangue deve ser evitado por parte do profissional, utilizando sempre luvas e mantendo a técnica asséptica durante todo o procedimento.

Controle de sangramento e curativo

O sangramento normalmente é leve e cessa em poucos minutos. Em casos de sangramento persistente, o profissional deve avaliar fatores como uso de anticoagulantes, distúrbios da coagulação ou dificuldade técnica durante a punção. Pacientes com distúrbios hemorrágicos conhecidos devem ser atendidos com atenção especial e, se necessário, encaminhados ao setor médico.

Após o controle do sangramento, é feito o curativo com gaze seca ou algodão e fita adesiva hipoalergênica. Curativos excessivamente apertados devem ser evitados, pois podem comprometer a circulação local. O paciente deve ser orientado a manter o curativo por pelo menos 15 a 30 minutos e observar o local nas horas seguintes, comunicando qualquer dor, inchaço ou hematoma progressivo.

A comunicação clara e cuidadosa após o procedimento fortalece a relação entre o paciente e o profissional, além de contribuir para a prevenção de complicações tardias.

Descarte correto de resíduos perfurocortantes

Os materiais utilizados durante a coleta devem ser descartados de forma segura, respeitando as normas de biossegurança e os protocolos internos da instituição. Agulhas, lancetas e outros objetos perfurocortantes jamais devem ser reencapados, dobrados ou manipulados após o uso. Eles devem ser descartados imediatamente após a coleta, em coletores rígidos, resistentes a perfurações e identificados com símbolo de risco biológico.

Esses coletores, popularmente conhecidos como “descarpack”, devem estar localizados próximos ao local de coleta e não devem ser preenchidos além de dois terços de sua capacidade. O descarte inadequado desses materiais

representa um sério risco de acidentes ocupacionais, como perfurações e exposição a sangue potencialmente contaminado por agentes infecciosos como HIV, hepatites B e C.

Outros resíduos, como algodões e gazes com sangue, luvas descartáveis e embalagens contaminadas, devem ser separados em recipientes apropriados para resíduos infectantes (Grupo A, segundo a RDC nº 222/2018 da ANVISA). A correta segregação e destinação dos resíduos de serviços de saúde faz parte do gerenciamento de resíduos e é obrigatória por lei.

A capacitação constante dos profissionais, aliada à fiscalização e à disponibilidade de recursos adequados, é essencial para o cumprimento dessas diretrizes e para a construção de uma cultura de segurança dentro dos serviços de saúde.

Referências Bibliográficas

1. ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 302/2005. Regulamento técnico para funcionamento de laboratórios clínicos.

2. ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 222/2018. Requisitos para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde.

3. HARMON, A. M. Phlebotomy Essentials. 7th ed. Philadelphia: Wolters Kluwer, 2020.

4. LIMA, M. F. et al. Manual de coleta de materiais biológicos para exames laboratoriais. São Paulo: Sarvier, 2018.

5. BRASIL. Ministério da Saúde. Guia de Biossegurança em Serviços de Saúde. Brasília, 2006.

 

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